10/12/2010
Autor: Rachel Mortari
Fonte: Minc - http://www.cultura.gov.br/
Maniwa Kamayurá, representante dos povos indígenas do Alto Xingu, especialista em construção da residência tradicional kamayurá, foi o último mestre da disciplina Artes e Ofícios dos Saberes Tradicionais, do projeto Encontro de Saberes, promovido pela Universidade de Brasília (UnB) em parceria com a SID/MinC. Maniwa foi acompanhado pelo professor de arquitetura da universidade, Jaime Almeida e construiu, junto com os alunos, uma maquete das casas que está habituado a fazer.
A maquete construída tem 2m x 0,5m, uma casa original tem em média 10m x 40m e abriga cerca de 30 pessoas. Produzida com materiais orgânicos - madeira e fibras - é feita praticamente a mão, com pouquíssimas ferramentas, dura de 15 a 20 anos e leva cerca de sete meses para ser construída.
Maniwa e seu filho Wali passaram mais de duas semanas em Brasília com os alunos da UnB. O mestre explica que a casa é uma pessoa, sua estrutura tem costelas, pés, peito, pente, brinco, bumbum. "A gente faz uma pessoa e essa casa não é inventada, ela vem de nossos avôs. Só a família mora na casa, sogra, filhos, genro, tios, netos".
Casa Xinguana da Secretaria da Identidade no Vimeo.
Quando os indígenas do Alto Xingu casam, eles vão morar na casa da família da esposa e têm que trabalhar para o sogro, para os cunhados. Eles não se falam, a comunicação é feita por meio da esposa, quando o casal começa a ter filhos e aumentar sua família, constróem sua própria casa. Maniwa é da etnia kamayurá e sua esposa yualapiti. Há, no Alto Xingu, uma diplomacia histórica entre as várias etnias que vivem na região.
O professor Jaime Almeida explica que a construção das casas é trocada por comida, mas, além disso, os arquitetos têm um reconhecimento social dentro da comunidade, "é uma pessoa de talento". Segundo o professor há uma preocupação muito grande dos povos que vivem no Alto Xingu com a escassez de alguns materiais utilizados há séculos e que estão se acabando devido às novas formas de relação com o local em que vivem. "Antigamente eles eram nômades e não havia escassez de material, pois eles se retiravam daquele espaço para a que a Terra pudesse se refazer, mas agora, com estão fixos, sofrem com o problema da falta de matéria-prima".
Para ajudar a solucionar esse problema, o Centro de Pesquisa e Aplicação de Bambu e Fibras Naturais da UnB, através da Rede Brasileira de Bambu, irá propor ao Ministério da Ciência e Tecnologia um programa de pesquisa para encontrar formas de substituir esses produtos por outros sem prejudicar a tradição da moradia.
A estudante de arquitetura, Lívia Brandão, aprovou as aulas dos mestres e de Maniwa. "É uma oportunidade inédita para nós estudantes termos acesso a forma de construção de outros povos. É incrível como eles tem a capacidade de construir as suas próprias casas e como elas são perfeitas na relação com a temperatura, luminosidade e relação com a natureza. O modelo que a gente buca, de sustentabilidade eles já aplicam há muito tempo, porque se entendem parte dessa casa, dos materiais que são usados por eles. Ter acesso a essa sabedoria e a essa historicidade é um privilégio".
Mestre Maniwa reclamou. "O tempo é muito pouco. A casa tem muitos detalhes e não é possível construí-la, mesmo sendo uma maquete, em duas semanas. Não posso ensinar errado, com pressa, se não vem outro arquiteto indígena e diz que eu não ensinei certo, ou então que eu sei, mas que não quis repassar meu conhecimento".
A professora de antropologia Maristela Souza Torres, da equipe de coordenação pedagógica do Projeto disse que a questão do tempo é um dos quesitos que devem ser avaliados para a elaboração dos novos módulos. "Incluímos duas aulas a mais para o mestre Maniwa e ainda assim foi pouco e ele é muito exigente com o resultado do seu trabalho.
http://www.cultura.gov.br/site/2010/12/10/encontro-dos-saberes-2/
A maquete construída tem 2m x 0,5m, uma casa original tem em média 10m x 40m e abriga cerca de 30 pessoas. Produzida com materiais orgânicos - madeira e fibras - é feita praticamente a mão, com pouquíssimas ferramentas, dura de 15 a 20 anos e leva cerca de sete meses para ser construída.
Maniwa e seu filho Wali passaram mais de duas semanas em Brasília com os alunos da UnB. O mestre explica que a casa é uma pessoa, sua estrutura tem costelas, pés, peito, pente, brinco, bumbum. "A gente faz uma pessoa e essa casa não é inventada, ela vem de nossos avôs. Só a família mora na casa, sogra, filhos, genro, tios, netos".
Casa Xinguana da Secretaria da Identidade no Vimeo.
Quando os indígenas do Alto Xingu casam, eles vão morar na casa da família da esposa e têm que trabalhar para o sogro, para os cunhados. Eles não se falam, a comunicação é feita por meio da esposa, quando o casal começa a ter filhos e aumentar sua família, constróem sua própria casa. Maniwa é da etnia kamayurá e sua esposa yualapiti. Há, no Alto Xingu, uma diplomacia histórica entre as várias etnias que vivem na região.
O professor Jaime Almeida explica que a construção das casas é trocada por comida, mas, além disso, os arquitetos têm um reconhecimento social dentro da comunidade, "é uma pessoa de talento". Segundo o professor há uma preocupação muito grande dos povos que vivem no Alto Xingu com a escassez de alguns materiais utilizados há séculos e que estão se acabando devido às novas formas de relação com o local em que vivem. "Antigamente eles eram nômades e não havia escassez de material, pois eles se retiravam daquele espaço para a que a Terra pudesse se refazer, mas agora, com estão fixos, sofrem com o problema da falta de matéria-prima".
Para ajudar a solucionar esse problema, o Centro de Pesquisa e Aplicação de Bambu e Fibras Naturais da UnB, através da Rede Brasileira de Bambu, irá propor ao Ministério da Ciência e Tecnologia um programa de pesquisa para encontrar formas de substituir esses produtos por outros sem prejudicar a tradição da moradia.
A estudante de arquitetura, Lívia Brandão, aprovou as aulas dos mestres e de Maniwa. "É uma oportunidade inédita para nós estudantes termos acesso a forma de construção de outros povos. É incrível como eles tem a capacidade de construir as suas próprias casas e como elas são perfeitas na relação com a temperatura, luminosidade e relação com a natureza. O modelo que a gente buca, de sustentabilidade eles já aplicam há muito tempo, porque se entendem parte dessa casa, dos materiais que são usados por eles. Ter acesso a essa sabedoria e a essa historicidade é um privilégio".
Mestre Maniwa reclamou. "O tempo é muito pouco. A casa tem muitos detalhes e não é possível construí-la, mesmo sendo uma maquete, em duas semanas. Não posso ensinar errado, com pressa, se não vem outro arquiteto indígena e diz que eu não ensinei certo, ou então que eu sei, mas que não quis repassar meu conhecimento".
A professora de antropologia Maristela Souza Torres, da equipe de coordenação pedagógica do Projeto disse que a questão do tempo é um dos quesitos que devem ser avaliados para a elaboração dos novos módulos. "Incluímos duas aulas a mais para o mestre Maniwa e ainda assim foi pouco e ele é muito exigente com o resultado do seu trabalho.
http://www.cultura.gov.br/site/2010/12/10/encontro-dos-saberes-2/