O homem da botinha, quantas virtudes ele tinha!
Não era perfeito, mas sempre gostou de andar direito.
Exímio negociante, sempre vislumbrava uma ótima oportunidade, de tudo que parecia a sua frente.
Um dos serviços, que mais gostou, pelo que ele me contou, foi ajudar seu pai a pisar barro, no tempo em que ele fabricava tijolos.
Muita casca de barba timão ele tirou, vendia a mesma no curtume, pois usar a casca para secar o couro, naquela época era costume.
Teve lenhadora, seu machado amolou, para derrubar árvores, pois com o mesmo muita lenha ele cortou. Vendia nas padarias, e com ela seu fogo acendia, para assar nosso pão, que comemos no dia a dia.
Logo que casou, uma linha de leite ele comprou, mas para seu dissabor, o antigo dono o enganou, e com parcelas de um caminhão para pagar, muito teve que trabalhar.
E é bom lembrar, que outra profissão, se empenhou em começar.
Na cidade, utensílios de cozinha ele comprava, e no campo trocar por alguma coisa, sempre se aventurava.
No campo, muitos perigos enfrentou, na iminência do ataque de um cachorro bravo, um palito de fósforo ele acendia, e no mesmo ele jogava, e para sua segurança, o cão se afugentava.
Na feira livre também vendia, ramos de palmeira que ele trançava, para ser benzida no domingo de ramos, frutas, animais, e tudo mais que aparecia.
O táxi de hoje, mas antigamente era carro de praça, foi outra profissão que abraçou, e também a ela se dedicou.
Mas foi a negociar frutas, em que melhor se encaixou, muita experiência acumulou, com muita sabedoria, pomares na florada ele comprava, sem calculadora percorria as frutíferas, e só olhando as flores, conseguia imaginar quantas frutas aquele pé ia frutificar.
Muita ferroada de abelha seu corpo suportou, de enxames que no interior das laranjeiras se instalou.
Na hora da refeição, uma fogueirinha ele acendia, lanches com muito amor ele preparava, e na sombra das laranjeiras, os filhos e funcionários alimentava.
Muita coisa ele me ensinou, a fechar portas de veículos sem bater, o que muito tenho a agradecer, aos treze anos me ensinou a dirigir caminhão com muita aptidão, a trabalhar, mas também não deixar de estudar.
Quando eu era criança, muitos banhos ele me deu, nas férias escolares de Julho, e a de final de ano, íamos sempre passear, na casa do tio Manoel, que morava em um sítio em Botelho, nas cercanias de Santa Adélia, tio Manoel era um espanhol alegre e saltitante, com um vasto bigode, que nos recebia com uma alegria contagiante, ele pulava, fazia micagens, um verdadeiro anfitrião, no sítio não existia luz elétrica na época, então a noite, ficávamos conversando a luz de lamparina, e como era gostoso ouvir suas histórias.
Uma vez, estávamos indo de caminhão para lá, e em algum trecho do caminho, meu pai viu em um sítio, folhas de fumo secando, e como na época ele gostava de fumar cigarro de palha, parou e foi tentar comprar algum fumo de corda, ele desceu do caminhão, eu, minha mãe, e meus irmãos, ficamos aguardando no veículo, como já fazia algum tempo que meu pai tinha descido, e não voltava, minha mãe chamou por ele, e eis que vem meu pai junto com um italiano, que era o proprietário do sítio, e com uma hospitalidade fora do comum, o mesmo fez muita questão que toda nossa família almoçasse com a dele, e antes de nossa partida, ainda nos presenteou com frutas, e muitas outras coisas.
Que saudades da época de antigamente, que em relação aos dias de hoje, é muito diferente.
Íamos também, para a casa da tia Isabel e tio Francisco em Braúna, cidadezinha próxima de Penápolis, tia Isabel gostava muito de conversar, e toda tarde íamos para a praça passear, e quando saíamos eu falava para ela, tia não vai fechar as janelas e portas da casa?. Ao que ela me respondia, para que?, eu retrucava, pode entrar algum ladrão, então ela respondia, mas aqui não existe ladrão.
Que coisa gostosa ouvir isso, imaginemos um mundo sem ladrão, quanta tranquilidade ia existir em cada cidade.
E até em Buenos Aires, na Argentina, ele nos levou a visitar primos e primas, lá comi o pêssego mais gostoso da minha vida, quanta fartura de frutas. Fomos ao Tigre, local pitoresco no rio da Prata, onde por ele, fizemos de barco um longo passeio.
Em muitos postos de rodovia, próximo a Araraquara, aos domingos nos levava para almoçar, sendo assim minha mãe tinha um merecido descanso, e deixava de cozinhar.
Em bailes nos sítios, também estava presente, era um dançarino, que na dança se envolvia, e isso lhe dava muita alegria.
Os jogos porém, sempre foram sua maior diversão, logo depois de casado, em muitas corridas de cavalos, dinheiro ele jogou, mas pelo que eu saiba, muito pouco ele ganhou.
Mas os jogos que ele mais se divertia, era com baralho, gostava muito de jogar uma rodada de truco, e isso muito lhe alegrava, ficava até de madrugada, porém nesse jogo não perdia nada.
Por médicos foi desenganado, com isso ficou muito assustado, via a morte vindo lhe buscar, porém até hoje com 92 anos, a ela conseguiu enganar, e aos que deram esse veredito, em baixo da terra estão a repousar.
Chic pac, chic pum, nessa ginga que ele falava, viva o galego, que assim dançava.
COM GRANDE ORGULHO DE SER SEU FILHO, A MINHA ETERNA GRATIDÃO.
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