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quarta-feira, 5 de novembro de 2014
COMO ADMINISTRAR OS PENSAMENTOS E AS EMOÇÕES
Altruísmo
Budismo
Causas da Felicidade
Causas do Sofrimento
Felicidade
Matthieu Ricard
Meditação
Treino da Mente
nov 3, 2014
3 1169
ADMINISTRAR OS PENSAMENTOS E AS EMOÇÕES
Trecho do livro ”A Arte de Meditar”, de Matthieu Ricard.
Ouve-se frequentemente dizer que o budismo, em geral, e a meditação, em particular, visam a suprimir as emoções. Tudo depende do que se entende por “emoção”. Se se tratar de perturbações mentais tais como o ódio e o ciúme, por que não nos livrar delas? Se se tratar de um forte sentimento altruísta ou de compaixão em relação aos outros que sofrem, por que não desenvolver essas qualidades? Esse é o objetivo da meditação.
A meditação nos ensina a administrar os acessos de raiva malévola ou de ciúme, as ondas de desejo incontrolável e os medos irracionais. Libera-nos da imposição dos estados mentais que obscurecem nosso julgamento e são fonte de incessantes tormentos. Fala-se, então, em “toxinas mentais”, pois esses estados mentais intoxicam, verdadeiramente, nossa existência e a dos outros.
A palavra “emoção” provém do latim emovere, que significa “por em movimento”. Uma emoção é, então, o que faz movimentar a mente, seja ela em direção a um pensamento nocivo, neutro ou benéfico. A emoção condiciona a mente e a faz adotar uma certa perspectiva, uma certa visão das coisas. Essa visão pode estar de acordo com a realidade, no caso do amor altruísta e da compaixão, ou deturpada, no caso do ódio ou da avidez. Como enfatizamos acima, o amor altruísta é uma tomada de consciência do fato de que todos os seres desejam, como nós, ser libertados do sofrimento e se baseia no reconhecimento de sua interdependência fundamental, da qual participamos. O ódio, ao contrário, deforma a realidade ampliando os defeitos de seu objeto e ignorando suas qualidades. Do mesmo jeito, o desejo ávido nos faz perceber seu objeto como desejável em todos os aspectos, ignorando seus defeitos. Deve-se convir que certas emoções são perturbadoras e outras benfazejas. Se uma emoção reforça nossa paz interior e nos incita ao bem do outro, podemos considerá-la positiva ou construtiva; se destrói nossa serenidade, perturba profundamente nosso espírito e nos leva a prejudicar os outros, ela é negativa ou perturbadora. É o que diferencia, por exemplo, uma indignação vigorosa, uma “santa cólera”, diante de uma injustiça que testemunhamos de uma cólera motivada pela intenção de fazer mal ao outro.
O importante não é, então, esforçarmo-nos muito para suprimir nossas emoções, o que seria em vão, mas fazer com que elas contribuam para nossa paz interior e nos levem a pensar, falar e agir de maneira bondosa com os outros. Para isso, devemos evitar ser o joguete dessas emoções, aprendendo a dissolver as que são negativas à medida que surgem e a cultivar as que são positivas.
Devemos compreender também que é o acúmulo e o encadeamento das emoções que determinam nossos humores, que duram alguns instantes ou dias, e formam, a longo prazo, nossas tendências e nossos traços de caráter. Assim, se aprendermos a administrar nossas emoções da melhor maneira, pouco a pouco, de emoção em emoção, dia após dia, acabaremos transformando nossa maneira de ser.
Essa é a essência do treinamento da mente e da meditação sobre as emoções.
Entre os diversos métodos que permitem administrar as emoções pela meditação, explicaremos dois: o primeiro consiste em aplicar antídotos; o segundo, a não se identificar com essas aflições efêmeras, reconhecendo sua verdadeira natureza.
RECORRENDO AOS ANTÍDOTOS
Antídoto designa aqui um estado de espírito diametralmente oposto à emoção perturbadora que desejamos combater. Da mesma forma que um copo de água não pode ser, ao mesmo tempo, frio e quente, não podemos simultaneamente querer fazer o bem e o mal à mesma pessoa. Trata-se, portanto, de cultivar remédios suficientemente poderosos para neutralizar as emoções que nos perturbam.
Visto sob outro ângulo, quanto mais desenvolvemos a benevolência, menos lugar haverá na mente para seu contrário, a malevolência. Da mesma forma, quanto mais luz houver num cômodo, mais a escuridão se dissipará. Nas meditações que se seguem, tomaremos primeiramente como exemplo o desejo, depois a raiva maléfica.
O desejo
Ninguém contesta que seja natural desejar, e que o desejo represente um papel essencial na vida para realizarmos nossas aspirações. Mas o desejo não é mais que uma força cega, nem benéfica nem nefasta por si mesma. Tudo depende da influência que o desejo exerce sobre nós. É capaz de inspirar nossa existência como pode também envenená-la. Pode nos incitar a agir de maneira construtiva para nós mesmos e para os outros, mas pode representar intensos tormentos. É o caso quando ele se torna uma sede que nos tortura e nos consome. Pode nos tornar dependentes das próprias causas do sofrimento. Ele é, então, fonte de infelicidade, não havendo nenhuma vantagem em permanecer como sua vítima. Para esse tipo de desejo, aplicaremos como antídoto a liberdade interior.
MEDITAÇÃO
Se somos prisioneiros de um desejo poderoso que nos perturba e nos obceca, comecemos por examinar suas características principais e identifiquemos os antídotos apropriados.
O desejo tem um aspecto de urgência. Acalmemos nossos pensamentos observando as idas e vindas da respiração como descrevemos anteriormente.
O desejo tem um aspecto coercitivo e perturbador. Como antídoto, imaginemos a satisfação e o alívio que acompanham a liberdade interior. Dediquemos alguns momentos a deixar esse sentimento de liberdade nascer e crescer em nós. O desejo tem tendência a deformar a realidade e a considerar seu objeto como fundamentalmente desejável. Para restabelecer uma visão mais justa das coisas, analisemos calmamente o objeto do desejo sob todos os seus aspectos, e meditemos alguns instantes sobre seus lados menos atraentes, até mesmo indesejáveis,
Finalmente, deixemos nossa mente descansar na paz da consciência plena, livre de esperança. De temor, e apreciemos o frescor do momento presente, que age como um bálsamo sobre o fogo do desejo.
“Uma mente sossegada não é sinônimo de mente vazia de pensamentos, de sensações e de emoções. Uma mente pacífica não é uma mente ausente”
Thich Nhat Hanh
“Tratar o desejo da seguinte maneira. Observe o pensamento ou a sensação quando eles aparecem. Observe o estado mental do desejo que os acompanha como uma coisa distinta. Note a extensão ou o grau exato desse desejo. Em seguida, observe quanto tempo duram e quando, finalmente, desaparecem. Quando tiver feito isso, transfira sua atenção para a respiração”.
Bhante Henepola Gunaratna
“Como é bom nos coçar quando sentimos qualquer coceira, mas que felicidade quando a coceira desaparece. Como é bom satisfazer nossos desejos, mas que felicidade ao ficarmos livres dos desejos.
Nagarjoûna
A raiva
A raiva egocêntrica, precursora do ódio, obedece ao impulse de afastar todo aquele que puser algum obstáculo ao que nosso eu exige, sem consideração pelo bem-estar do outro. Ela se expressa com uma hostilidade aberta quando o ego ameaçado decide contra-atacar, e com ressentimento e rancor quando ele é ferido, desprezado ou ignorado. Uma simples cólera pode estar associada à malevolência, ao desejo de prejudicar conscientemente alguém.
A mente, obcecada pela animosidade e pelo ressentimento fecha-se na ilusão e se convence de que a fonte de sua insatisfação reside inteiramente fora de si mesma.
Na verdade, mesmo se o ressentimento foi desencadeado por um objeto exterior, ele não se encontra em outro lugar que não seja na nossa mente. Além disso, se nosso ódio for uma resposta ao ódio do outro, desencadearemos um círculo vicioso que jamais terá fim. A meditação a seguir não tem por objetivo reprimir o ódio, mas voltar nossa mente para o que lhe é diametralmente oposto: o amor e a compaixão.
MEDITAÇÃO I
Consideremos alguém que se comportou com maldade contra nós ou contra nossos próximos, fazendo-nos sofrer. Consideremos também os seres que causam, ou causaram, imensos sofrimentos aos outros. Se os venenos mentais que os levaram a agir assim pudessem desaparecer de sua mente, eles deixariam de ser nossos inimigos e também da humanidade. Desejemos do fundo do coração que essa transformação aconteça. Para esse fim, podemos recorrer à meditação sobre o amor altruísta, formulando, como já vimos, o seguinte voto: “Que todos os seres possam se libertar do sofrimento e das causas do sofrimento. Que o ódio, a avidez, a arrogância, o desprezo, a indiferença, a avareza e o ciúme desapareçam de sua mente para serem substituídos pelo amor altruísta, pelo contentamento, pela modéstia, pela apreciação, pela solicitude, pela generosidade e pela simpatia”.
Deixemos esse sentimento de benevolência incondicional invadir todos os nossos pensamentos.
MEDITAÇÃO 2
Se formos tomados pela ansiedade – quando ficarmos retidos num engarrafamento, por exemplo, e corrermos o risco de perder o avião-, tentemos ficar plenamente conscientes dessa ansiedade. À medida que exercermos nossa consciência plena, perceberemos que a ansiedade se tornará menos intensa. Por quê? Porque a parte de nossa mente que está consciente da ansiedade não é, ela mesma, ansiosa. Ela é simplesmente consciente.
Momentos antes, a ansiedade preenchia toda nossa paisagem mental. Agora, ela só ocupa uma parte e divide esse espaço com a consciência plena. Observemos que, à medida que a consciência plena se ampliam a ansiedade vai desaparecendo, até perder a capacidade de perturbar nossa mente, para finalmente dar lugar à paz recuperada.
“Não vejo outra saída: que cada um de nós faça um retorno sobre si mesmo e extirpe e aniquile em si mesmo tudo o que ele acredita dever ser aniquilado nos outros. E estejamos convencidos de que o mínimo átomo de ódio que acrescentamos a este mundo torna-o ainda mais inóspito do que já é.”
“Não creio que possamos corrigir o que quer que seja no mundo exterior sem que o tenhamos, primeiramente, corrigido em nós. A única lição dessa guerra pe ter nos ensinado a procurar em nós mesmos e não alhures.”
Etty Hillesum
“Já é tempo de desviar o ódio de seus alvos habituais, seus pretensos inimigos, para dirigi-lo contra ele mesmo. Com efeito, seu verdadeiro inimigo é o ódio, e é ele que você deve destruir”.
Khyentsé Rinpoche
“Cedendo ao ódio, não prejudicamos necessariamente nosso inimigo, mas danificamos a nós mesmos. Perdemos nossa paz interior, não fazemos mais nada corretamente, digerimos mal, não dormimos mais, espantamos aqueles que vêm nos ver, lançamos olhares furiosos àqueles que ousam cruzar nosso caminho. Tornamos impossível a vida de quem mora conosco e afastamos nossos amigos mais caros. E, como aqueles que se compadecem de nós são cada vez menos numerosos, ficamos cada vez mais sós. [...] De que serve? Mesmo se formos até o fim de nossa raiva, jamais eliminaremos todos os nossos inimigos. Conhece alguém que tenha conseguido fazê-lo? Enquanto guardamos em nós esse inimigo interior que é a cólera ou o ódio, poderemos destruir nossos inimigos exteriores hoje, mas outros aparecerão amanhã”.
XVIº Dalai Lama
CESSEMOS DE NOS IDENTIFICAR COM NOSSAS EMOÇÕES
A segunda maneira de enfrentar nossas emoções perturbadoras consiste em dissociar mentalmente a emoção que nos aflige. Habitualmente, nós nos identificamos completamente com nossas emoções. Quando somos tomados por um acesso de raiva, transformamo-nos num só com ela. Ela é onipresente em nossa mente e não deixa nenhum lugar para outros estados mentais, tais como a paz interior, a paciência ou a consideração das razões que poderiam acalmar nosso descontentamento. Entretanto, se naquele momento formos ainda capazes de ter um pouco de presença de espírito – capacidade que pode ser treinada -, poderemos cessar de nos identificar com a raiva.
A mente é capaz de examinar o que se passa nela. Basta que ela observe suas emoções como faríamos com um acontecimento exterior que se produz diante de nossos olhos. Ora, a parte de nossa mente que está consciente da raiva está simplesmente consciente: ela não está com raiva. Ou seja, a consciência plena não é afetada pela emoção que observa. Compreender permite tomar distância, conscientizar-se de que essa emoção não tem nenhuma substância, e deixar-lhe espaço suficiente para que ela se dissolva por si mesma.
Agindo assim, evitamos dois extremos, ambos prejudiciais: reprimir a emoção, que permanecerá em algum lugar sombrio de nossa consciência, como uma bomba-relógio, ou deixa-la explodir, em detrimento daqueles que nos cercam e de nossa própria paz interior. Não se identificar com as emoções constitui um antídoto fundamental aplicável em todas as circunstâncias.
Na próxima meditação, tomaremos novamente como exemplo a cólera, mas o processo é o mesmo para qualquer outra emoção perturbadora.
MEDITAÇÃO
Imaginemos que estamos dominados por uma forte raiva. Achamos que não temos outra escolha a não ser nos deixar levar por ela. Impotente, nossa mente se volta sem cessar para o objeto que desencadeou sua raiva, como o ferro em direção ao ímã. Se alguém nos insultou, a imagem dessa pessoa e suas palavras voltam constantemente ao nosso pensamento. E cada vez que pensamos nisso desencadeamos uma nova labareda de ressentimento que alimenta o círculo vicioso dos pensamentos e das reações a esses pensamentos.
Mudemos, então, de tática. Desviemo-nos do objeto de nossa raiva e contemplemos a própria raiva. Seria um pouco como se olhássemos para o fogo, sem continuar a alimentá-lo com lenha. O fogo, por mais violento que seja, não tardará a apagar-se sozinho. Da mesma forma, se simplesmente pousarmos o olhar da nossa atenção sobre a raiva, é impossível que ela perdure por si mesma. Toda emoção, por mais intensa que seja, esgota-se e se esvanece naturalmente quando cessamos de alimentá-la.
Saibamos, enfim, que a raiva, por mais forte que seja, não passa de um pensamento. Vamos examiná-la mais de perto. De onde ela tira o poder de nos dominar a tal ponto? Possui uma arma? Queima como fogo? Esmaga-nos como uma rocha? Podemos localizá-la em nosso peito, coração ou cabeça? Se acreditarmos que sim, tem ela cor ou forma? Teremos muita dificuldade de encontrar nela tais características. Quando contemplamos uma nuvem espessa num céu de tempestade, vemos que ela tem um ar maciço que poderíamos nos assentar sobre ela. Entretanto, se voássemos em sua direção, nada encontraríamos para pegar: só há vapor impalpável. Da mesma maneira, examinando atentamente a raiva, nada encontraremos que possa justificar a influência tirânica que exerce sobre nós. Quanto mais tentamos defini-la, mais ela desvanece sob nosso olhar como a geada sob os raios do sol.
Finalmente, de onde vem essa raiva? Onde está agora? Para onde foi? Tudo o que podemos afirmar é que provém de nossa mente, permanece ali alguns instantes e desaparece em seguida. Quanto à mente, ela é imperceptível, não constitui uma entidade distinta e não é mais do que um fluxo de energia.
Se em cada vez que uma forte emoção surgir nós aprendermos a administrá-la com inteligência, não somente dominaremos a arte de liberar as emoções no exato momento em que surgem, mas também destruiremos progressivamente as tendências que fazem com que as emoções apareçam. Assim, pouco a pouco, nossos traços de caráter e nossa maneira de ser se modificarão.
Esse método pode parecer um pouco difícil no início, sobretudo no calor dos acontecimentos, mas com a prática vai se tornar cada vez mais familiar. Logo que a raiva ou qualquer outra emoção perturbadora surgirem em nossa mente, vamos identificá-las de imediato e saberemos enfrentá-las antes que tomem uma grande dimensão. É como se conhecêssemos a identidade de um batedor de carteira: mesmo que se misturasse à multidão, iríamos localizá-lo instantaneamente e ficaríamos de olho nele para que não roubasse nossa carteira.
Assim, familiarizando-nos cada vez mais com os mecanismos da mente, e cultivando a consciência plena, não deixaremos mais a centelha das emoções nascentes se transformar em incêndio capaz de destruir nossa felicidade e a dos outros.
Esse método pode ser utilizado com todas as emoções perturbadoras; ele permite fazer uma ponte entre a prática da meditação e as ocupações da vida cotidiana. Se nos habituarmos a ver os pensamentos no momento em que surgem, e deixá-los se dissipar antes que tomem posse de nós, será muito mais fácil continuarmos a ser donos de nossa mente e a administrar as emoções conflituosas no meio de nossas atividades diárias.
“Lembrem-se de que os pensamentos são apenas o produto da conjunção fugaz de um grande número de fatores. Eles não existem por si mesmos.
Também, logo que surgirem, reconheçam sua natureza que é própria da vacuidade. Eles perderão logo o poder de gerar outros pensamentos e a cadeia da ilusão será interrompida. Reconheçam essa vacuidade dos pensamentos e deixem que estes se soltem na claridade natural da mente límpida e inalterada”.
“Quando um raio de sol bate sobre um pedaço de cristal, jorram luzes irisadas brilhantes, mas insubstanciais. Assim também os pensamentos, em sua infinita variedade – devoção, compaixão, maldade, desejo-, são inacessíveis, imateriais, impalpáveis. Não há nenhum que não seja vazio de existência própria. Se você souber reconhecer a vacuidade de seus pensamentos no exato momento em que surgem, eles se dissolverão. O ódio e o apego não poderão mais abalar a sua mente, e as emoções perturbadoras cessarão por si mesmas. Você não acumulará mais atos nefastos e, consequentemente, não causará mais sofrimento. É a derradeira pacificação.”
Dilgo Khyentsé Rinpoche
terça-feira, 28 de outubro de 2014
SHUNGIT
A Shungit é um mineral também conhecido como ' a pedra inteligente ' ou ' o buraco negro ' graças às suas propriedades de atracção da energia electromagnética.
É um mineral natural carbonoso que se encontra nos campos da Rússia. Suas propriedades e aplicações se estão a desenvolver em campos científicos da nanotecnologia e a luta contra o cancro.
Após investigações científicas foi declarado como um mineral único e componente principal da nova medicina do século XXI. Isto é porque é o único mineral da terra que contém fullereres, elemento fundamental na luta contra o cancro.
Esta pedra absorve e eliminar o que é nocivo para as pessoas e seres vivos. Se descobriu que a água tratada com a Shungit ajuda a combater determinadas doenças como o stress, regula as funções do fígado, intestinais e renais ; alivia dores de cabeça, costas, reumatismos ; norteia o sonho e a tensão arterial e aumenta a vitalidade.
O contacto com a Shungit, ao ser um mineral de alta frequência, acelera os processos, tal como a liquidação do karma, descarga os conflitos, limpa de energias parasitárias, etc.
Deixamos algumas imagens da Shungit nas suas formas mais conhecidas. :)
Foto de Crónicas Para Despertar.
Foto de Crónicas Para Despertar.
Foto de Crónicas Para Despertar.
José Bento Rodrigues Garcia
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quarta-feira, 24 de setembro de 2014
A PESSOA MAIS IMPORTANTE DA MINHA VIDA
Depois de DEUS, o ser humano mais importante na minha vida é minha MÃE, criatura que me gerou, carregando-me em seu ventre durante 9 meses, deu a luz (nome bem apropriado para esse ato, porque é uma luz em nossas vidas), e me cobriu de amor, carinho e afeto, e até hoje nunca me desapontou.
Se privou de muitas coisas para poder doar, e ainda até hoje tem esse comportamento.
Salvo algumas excessões, nossa mãe é o verdadeiro ANJO DA GUARDA, que nos coloca no mundo, e nós seres humanos muito indefesos quando bebês, somos vigiados incansavelmente por essa criatura angelical, que nos defende de todos os perigos, de todas as mazelas que a vida coloca em nossa frente.
MÃE, ser iluminado que tira forças das profundezas de suas entranhas, e diuturnamente, incansavelmente, está sempre disposta a fazer o que pode, e o que não pode para poder se doar em prol de um filho(a).
Nessa época, desse ano eleitoral, quando vemos na mídia tanta hipocrisia, tanta mentira, tantos ataques entre os candidatos fiquei imaginando, se esses seres despresíveis tivessem a ombridade de enxergar 10% do que uma verdadeira mãe sente por um filho(a), em relação ao seu próximo, acho que estaríamos implantando o paraíso aqui no Brasil.
Eis aqui uma pequena homenagem à minha querida e amada MÃE, que ainda tenho o privilégio de conviver.
Quem não tem a sua, reze um pai nosso por ela, imaginando um abraço bem apertado, e que esse abraço caiba nessa fração de tempo por toda a ETERNIDADE. E que nesse instante mágico duas pessoas visitem o CÉU.
ON SHANTI (paz interior)
quinta-feira, 4 de setembro de 2014
ESTAMOS SÓ DE PASSAGEM
André Luiz
Só de passagem
A expressão Estou só de passagem, ao se referir à vida física, atesta que a pessoa tem convicção imortalista.
Ela sabe que é breve sua passagem pelo planeta. Mesmo que chegue aos cem anos, se considerar a eternidade, é um lapso temporal breve.
A pessoa, que assim se expressa, manifesta a convicção de quem tem os olhos postos no futuro. Vive no mundo, mas com a inabalável certeza de que sua preocupação deve ser com o Espírito imortal, esse que sobreviverá à morte corporal.
Se isso é louvável, um detalhe, no entanto, não pode ser esquecido. É que a vida corporal é etapa imprescindível ao progresso do Espírito.
É na carne que se experimentam as provas. É nas vicissitudes da vida que o Espírito cresce, utilizando sua inteligência e criatividade, para superar transtornos e desafios.
Isso nos diz que os mundos materiais são importantes. São moradas, estâncias, onde o Espírito se reveste de carne e habita. E progride.
Dessa forma, há que se considerar o que estamos fazendo com o planeta, enquanto nos encontramos somente de passagem.
O que estamos fazendo com nossa morada, lar, escola?
Estamos auxiliando na sua conservação ou somos dos que não nos preocupamos com coisa alguma porque logo estaremos partindo?
Seria importante nos perguntarmos se estamos colaborando com as medidas de sustentabilidade do planeta.
Coisas simples, como diminuir o impacto ambiental, substituindo plástico por outros materiais menos agressivos ao meio ambiente.
É de nos indagarmos se somos dos que, a cada vez que nos servimos de água, nos bebedouros do escritório, da empresa, apanhamos um novo copo plástico.
Já nos preocupamos com o meio ambiente e temos nosso próprio copo de vidro, para uso particular, no local de trabalho? Ou, ao menos, nos servimos de um único copo plástico, durante todo o dia?
Lembramos de utilizar a impressão de documentos, artigos e tudo o mais, somente quando imprescindível, poupando árvores?
Recordamos de utilizar a folha de papel de ambos os lados? De reutilizar papel escrito em uma só face, transformando-o em bloco de anotações ou lembretes?
Preocupamo-nos com a separação do lixo orgânico do lixo reciclável?
São coisas pequenas, mas que têm muita importância. Não podemos nos esquecer que estamos de passagem, mas nossos filhos, netos, quanto tempo mais terão sobre a Terra?
E, além disso, um detalhe importante: pela lei da reencarnação, deveremos retornar em algum momento.
Já pensamos em como desejamos encontrar o planeta, nesse retorno?
O que fazemos reflete no todo. E não nos preocupemos com os que não colaboram.
Poderão aprender com nosso exemplo. Enquanto isso, sejamos como a ave que, levando gotas de água em suas asas, tenta apagar o incêndio na floresta.
Em resumo: façamos nossa parte.
A propósito, já plantamos uma árvore, em nossa vida? Semeamos um jardim?
Pensemos nisso.
Pensemos nisso.
quarta-feira, 3 de setembro de 2014
PESSOAS SÃO COMO MÚSICAS
Pessoas são músicas, você já percebeu?
Elas entram na vida da gente, e deixam sinais. Como a sonoridade do vento ao final da tarde.
Como os sons dos violinos tocando músicas celestes, presentes em cada clarão da manhã.
Olhe a pessoa que está ao seu lado, e você vai descobrir, olhando fundo, que há uma melodia brilhando no disco do olhar.
Procure escutar. Pessoas foram compostas para serem ouvidas, sentidas, compreendidas, interpretadas.
Para tocarem nossas vidas com a mesma força do instante em que foram criadas, para tocarem suas próprias vidas com toda essa magia de serem músicas.
E de poderem alçar todos os voos, de poderem vibrar com todas as notas, de poderem cumprir, afinal, todo o sentido que a elas foi dado pelo COMPOSITOR.
Pessoas são músicas como você. Está ouvindo?
Pessoas têm que fazer sucesso.
Mesmo que não estejam nas paradas.
Mesmo que não toquem no rádio.
Autor desconhecido
terça-feira, 26 de agosto de 2014
MEDITAÇÃO E CURA
BudismoCausas da FelicidadeCausas do SofrimentoMeditaçãoMomento Presenteset 16, 2013
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4.9K Flares 4.9K Flares × Geralmente, se você tem um falatório mental, chama isso de pensamentos. Mas se está profundamente envolvido em algo emocional, você dá prestígio especial a isso. Você pensa que esses pensamentos merecem o privilégio especial de serem chamados de “emoção”.
De alguma maneira, nos domínios da mente de fato, as coisas não são assim. O que quer que surja são apenas pensamentos: pensar que estamos com tesão, pensar que estamos com raiva. No que concerne à prática da meditação, seus pensamentos não são mais tratados como VIPs, enquanto você medita.
Você pensa, você medita; você pensa, você medita; você pensa, você medita. Você tem pensamentos, você tem pensamentos sobre pensamentos. Deixe que seja assim. Chame-os de pensamentos.
Chogyam Trungpa (Tibete, 1939 – Canadá, 1987)
Meditação e Cura
A meditação (chamada dhyana em sânscrito e zen em japonês) é o cerne da prática budista. O objetivo da meditação é ajudar o praticante a chegar a uma compreensão profunda da realidade. Esta introspecção tem a capacidade de libertar-nos do medo, da ansiedade e da depressão. Pode produzir compreensão e compaixão, pode elevar a qualidade de vida e trazer liberdade, paz e alegria para nós mesmos e para as pessoas ao nosso redor.
Sobretudo na última parte do século XX, as pessoas do Ocidente começaram a voltar sua atenção para a meditação. O conforto material do Ocidente não é suficiente para trazer felicidade. Nossas mágoas, nossas preocupações e nossos problemas só podem ser resolvidos mediante uma vida espiritual. O budismo e a prática da meditação estão indicando atualmente a um maior número de pessoas um caminho para responder a estas dificuldades.
A meditação sentada é a forma mais comum de meditação, mas também podemos praticá-la em outras posições como caminhando, em pé ou deitados. Quando lavamos roupa, cortamos lenha, regamos as plantas ou dirigimos o carro – onde quer que estejamos, o que quer que façamos, seja qual for a posição de nosso corpo, se as energias da mente alerta, da concentração e da introspecção estiverem presentes em nossa mente, em nosso corpo, então estamos praticando a meditação. Não precisamos ir a um templo, a uma igreja ou a um centro de meditação para meditar. Viver em sociedade, ir ao trabalho todo dia, cuidar de nossa família também são oportunidades de praticarmos a meditação. A meditação tem o efeito de nutrir e curar o corpo e a mente. E devolve ao praticante e às pessoas que o cercam a alegria de viver. (…)
A meditação é especialmente indicada para nos ajudar naquilo que o budismo chama de nós interiores e de complexos de identidade. Esses grilhões nos impedem de estar conscientes no momento atual.
Os nós interiores são um conjunto de ilusões, repressões, medos e ansiedades que se fixaram nas profundezas de nossa consciência. Eles são capazes de nos constranger e nos levar a fazer, dizer e pensar coisas que na realidade não queremos fazer, dizer ou pensar. Os nós interiores são plantados e alimentados por nossa ausência da mente alerta durante a vida de todo dia. Os dez nós interiores principais são: ganância, ódio, ignorância, vaidade, desconfiança, fixação no corpo como se fosse o eu, pontos de vista extremados e preconceitos, apego a ritos e rituais, ânsia de imortalidade, desejo ardente de manter as coisas exatamente como são. Nossa saúde e nossa felicidade dependem em grande parte de nossa habilidade de transformar esses dez grilhões.
A mente alerta tem a capacidade de reconhecer os nós interiores quando eles aparecem em nossa consciência. Esses nós interiores se formaram no passado, às vezes foram energias habituais a nós transmitidas por nossos pais e avós. Não precisamos voltar ao passado e cavar nas lembranças, como se faz na psicologia, para descobrir as raízes dessas partes turvas e emaranhadas de nossa mente. A energia da mente alerta é capaz de reconhecer as formações interiores quando elas se manifestam e olhar profundamente para dentro delas, de modo que podemos ver as raízes desses nós emaranhados.
A prática da meditação nos ajuda a ver a interconexão e a interdependência de tudo o que existe. Não há fenômeno, seja ele humano ou material, que possa aparecer por si só e durar por si só. O fato é que uma coisa depende da outra para surgir e durar. Esta é a introspecção da interdependência, às vezes chamada também de inter-ser ou não-eu. Não-eu significa que não há uma entidade permanente separada. Todas as coisas estão em constante mutação. Pai e filho, por exemplo, não são duas realidades separadas. O pai existe no filho, e o filho existe no pai. O filho é a continuação do pai no futuro, e o pai é a continuação do filho no passado da fonte. A felicidade do filho está ligada à felicidade do pai. Se o pai não é feliz, a felicidade do filho não pode ser perfeita. A natureza de todas as coisas é não-eu. Não’ há um eu separado e independente.
No âmbito da psicoterapia, a baixa auto-estima é considerada doença. Na prática da mente alerta, tanto a baixa quanto a alta auto-estima e também a necessidade de julgar-se exatamente igual às outras pessoas também são consideradas doenças ou, como dizemos no budismo, complexos. Todos esses três complexos se baseiam na idéia de um eu separado. Baseiam-se todos no orgulho: orgulho de ser melhor, orgulho de ser pior e orgulho de ser igual. O sofrimento que nasce da raiva, da inveja, do ódio e da vergonha só pode ser completamente transformado quando chegamos à introspecção do não-eu. Este é o fundamento da prática da cura na meditação.
“As razões mais profundas para amar a si mesmo não tem nada a ver com nada fora de você – não com o seu corpo ou com as expectativas que os outros têm de você. Se você entrar em contato com sua própria bondade, nada será capaz de prejudicar a sua auto-estima.” Karmapa
O mestre zen Thuong Chieu, do Vietnã do século XI, disse que, se conhecêssemos o caminho das atividades da mente, a prática da meditação seria fácil. A escola de budismo da Consciência Somente (Consciousness Only) fala de oito espécies de consciência: as consciências dos cinco sentidos (visão, audição, olfato, paladar e tato); consciência da mente; manas (consciência da identidade) e depósito de consciência.
Manas é a energia ligada à idéia de que existe um eu separado, independente e duradouro, oposto àquelas coisas que não são o eu. A consciência alaya, ou depósito de consciência, é semelhante a um jardim que contém todo tipo de sementes; e a consciência da mente é semelhante ao jardineiro. Quando praticamos a meditação, a consciência da mente está trabalhando, mas o depósito de consciência também está trabalhando secretamente dia e noite. A mente inconsciente da psicologia ocidental é apenas uma parte do depósito de consciência. Se conseguirmos reconhecer e transformar os nós interiores que estão no fundo de nossa consciência, isto levará à liberdade e à cura. Isto se chama transformação na base (asrayaparavritti). Significa a transformação que ocorre justamente na subestrutura da consciência.
Quando nossos desejos, medos e sentimentos de indignação são reprimidos, ficam quais sementes que não recebem o oxigênio nem a água de que precisam para crescer e se transformar em algo belo; e podemos experimentar, tanto no corpo como na alma, sintomas que se originam desse bloqueio. Apesar dessas formações mentais terem sido reprimidas, ainda têm a função de nos prender e dirigir, tornando-se assim nós interiores muito fortes. Temos o hábito de virar-lhes as costas, agindo como se elas não existissem, e é por isso que elas não têm oportunidade de emergir e aparecer em nossa consciência mental. Procuramos esquecer, consumindo mais coisas. Não queremos encarar esses sentimentos de dor e de abatimento. Queremos preencher a área da consciência mental de modo que o espaço todo seja ocupado e os sentimentos de pesar que estão no fundo não encontrem lugar para se manifestar. Assistimos aos programas de televisão, ouvimos rádio, folheamos livros, lemos jornais, conversamos, jogamos cartas e bebemos bebidas alcoólicas, tudo para esquecer.
Quando nosso sangue já não pode circular, aparecem sintomas de doenças em nosso corpo. Da mesma forma, quando as formações mentais são reprimidas e não podem circular, começam a aparecer sintomas de doenças físicas e mentais. Precisamos saber como parar com a repressão, para que as formações mentais de desejo, medo, indignação, etc. tenham oportunidade de se manifestar, ser reconhecidas e transformadas. Cultivar a energia da mente alerta através da meditação pode ajudar-nos a fazer isso. Praticar a mente alerta através da prática diária da meditação vai ajudar-nos a reconhecer, acolher e transformar nossos sentimentos de sofrimento.
Quando reconhecemos e acolhemos essas formações mentais, em vez de reprimi-las, sua energia negativa diminui um pouco. Contudo, meditar sobre essas formações mentais por cinco ou dez minutos pode ajudar. Na próxima vez que surgirem, serão novamente reconhecidas e acolhidas e voltarão ao depósito de consciência. Se permanecermos nesta prática, não mais temeremos nossas formações mentais negativas, não mais as empurraremos para baixo ou as reprimiremos como fizemos até agora.
A boa circulação em nossa mente pode ser restabelecida e as complicações psicológicas que causam bloqueios no corpo podem desaparecer aos poucos.
A mente alerta é sobretudo a capacidade de simplesmente reconhecer a presença de um objeto sem tomar partido, sem julgar, sem cobiçar e sem desprezar este objeto. Por exemplo, suponhamos que exista um lugar dolorido em nosso corpo. Com a mente alerta, nós simplesmente reconhecemos esta dor. Isto pode ser um tipo de oração bem diferente daquele a que você está acostumado, mas sentar em meditação e estar consciente desta dor, isto também é oração. Com a energia da concentração e da introspecção, somos capazes de ver e entender a importância dessa dor, o verdadeiro motivo por que surgiu e a maneira como seremos capazes de curá-la, com base na compreensão que provém da mente alerta e da concentração. Se tivermos ansiedade demais, se estivermos imaginando sempre coisas, esta ansiedade e estas imaginações vão trazer estresse à nossa mente, e a dor aumentará. Não é câncer, mas nós imaginamos que é câncer, e nós nos preocupamos e lamentamos até não mais conseguir comer nem dormir. A dor redobra e pode levar a uma situação mais grave.
Em um sutra, o Buda dá o exemplo de duas flechas. Se uma segunda flecha é lançada para dentro da ferida causada pela primeira flecha, a dor não será apenas dobrada, mas dez vezes maior. Não deveríamos deixar que uma segunda ou terceira flechas chegassem e nos ferissem ainda mais por causa de nossa imaginação e de nossas preocupações.
Quando perseguimos os objetos do desejo dos nossos sentidos como dinheiro, fama, poder e sexo, não estamos em condições de produzir autêntica felicidade. Ao contrário, criamos muito sofrimento para nós e para os outros. Os seres humanos estão repletos de desejos. Dia e noite correm atrás desses desejos e, por isso, não são livres. Se não forem livres, não se sentem à vontade e não experimentam a felicidade. Se tivermos poucos desejos, ficamos satisfeitos com uma vida simples e saudável, com viver profundamente cada instante da vida diária, com amar e cuidar de nossos entes queridos. Este é o segredo da verdadeira felicidade. Na nossa sociedade atual, muitíssimas pessoas procuram a felicidade na satisfação dos desejos dos sentidos. Aumentou em muito o sofrimento e o desespero.
O sutra da Floresta fala do desejo como de uma armadilha. Se formos pegos na armadilha do desejo, vamos lamentar e perder toda nossa liberdade, e não podemos ter verdadeira felicidade. O medo e a ansiedade também geram sofrimento. Se tivermos suficiente compreensão para aceitar uma vida simples e estar satisfeitos com o que temos, não nos precisamos preocupar mais nem temer nada. É só porque achamos que amanhã podemos perder nosso emprego e não receber o salário mensal que vivemos em constante nervosismo e ansiedade. Por isso, a única saída para nossa civilização é consumir pouco e produzir mais felicidade.
(Do livro “A energia da oração” – Thich Nhat Hanh)
Você sabe, a única coisa que realmente me surpreendeu quando fui pela primeira vez para o Ocidente era ouvir pessoas dizendo: ”Eu me odeio”, eu nunca poderia entender isso. Mas agora eu acho que entendo, quando as pessoas dizem: ”Eu me odeio”, o que eles realmente querem dizer é: ”Eu me amo demais”, e elas estão sempre decepcionadas por não corresponder ás expectativas que têm de si mesmas! Acho que o que elas querem dizer é: ”Eu sempre estou decepcionado comigo mesmo”. Tai Situ Rinpoche, entrevistado por Mick Brown.
O sofrimento é um atalho
Não podemos minimizar o efeito de uma boa meditação de quarenta minutos, que é tempo que um praticante mais maduro deve fazer. Então essa prática para a vida diária vai mudando essas questões do que alcançar. Sentir que não alcançou nada também já é muito bom. Porque um dos grandes problemas de quem começa a praticar é pensar que atingiu algo, ele senta-se e pensa – Ah, eu adquiri serenidade – ou – Que bom, eu pratico meditação e sou mais sereno, sou mais “zen” – como se diz na gíria. Há até quem se ache iluminado. Mas isso não tem nada a ver com o zen. Sentar-se e adquirir serenidade é uma prática que poder ser feita de muitas formas e não precisa, em absoluto, ter um objetivo espiritual. A serenidade é apenas um subproduto do sentar-se quieto em meditação, nada mais que isso. É como muita prática de ioga que se faz hoje em dia e transforma-se em ginástica simplesmente, mas que não tem objetivos espirituais, é mera busca de poder e prazer, a ioga com objetivos espirituais é outra coisa.
Então o primeiro que os alunos fazem quando se apresentam é sentar para meditar. Se você não ficar sentado quieto quarenta minutos não vai ouvir nenhum ensinamento, e se não voltar não tem problemas, porque o Zen não é para curiosos nem para pessoas que esperam resultados instantâneos ou uma panacéia, o Zen é para pessoas com a cabeça em chamas. Então tem que haver angústia, porque só a angústia existencial mobilizou Buda para prática, porque estava angustiado largou mulher, filho e foi para o meio da floresta e treinou, só por isso. Então é necessária a angústia, a inquietude e o desejo de se libertar. Por isso esse sofrimento é um atalho para a realização espiritual. E um corpo humano é a grande oportunidade, porque os homens tem as duas coisas, prazeres e dores.
P: Eu sei que não existe uma fórmula pra isso, mas como é complexo não pensar não é?
Monge Genshô: Não pense em não pensar. Quando se está fazendo zazen (meditação), não se trata de “não pensar”, mas sim de ficar prestando atenção completa a este momento presente, que é uma forma de pensar, não elaborando, não julgando, não conversando consigo mesmo, não usando palavras nem nada, apenas percebendo. Mas não é um “não pensar”. É pensando além do pensar e não pensar. Não se trata de não pensar, porque o cérebro continua funcionando. Ele está ali, vigilante e atento. Não é pra dormir. Quando você dorme, outra parte do cérebro toma conta e você começa a ter sonhos, que são uma atividade que não permite o zazen. O zazen precisa de vigília, de atenção.
Texto de Monge Genshô.
Examinamos sinceramente nossa existência. Como está nossa vida? Quais foram até agora nossas prioridades e o que queremos para o tempo de vida que nos resta?
Somos um misto de sombras e luzes, de qualidades e defeitos. Seria essa uma maneira de ser ideal, um fato inevitável? Se assim não for, o que fazer? Essas perguntas merecem ser feitas, sobretudo, se sentimos que uma mudança é possível e desejável.
Contudo, no Ocidente, devido às atividades que consomem, da manhã à noite, uma parte considerável de nossa energia, temos menos tempo para nos debruçar sobre as causas fundamentais da felicidade. Imaginamos que, mais ou menos conscientemente, quanto mais multiplicamos nossas atividades, mais as sensações se intensificam e mais nossa insatisfação é estancada. Na realidade, muito são aqueles que, ao contrário, se sentem decepcionados e frustrados com o modo de vida contemporâneo. Sentem-se desarmados, mas não veem outra solução porque as tradições que preconizam a própria transformação estão fora de moda. As técnicas de meditação visam transformar a mente. Não é necessário atribuir-lhes um rótulo religioso particular. Cada um de nós tem uma mente, cada um pode trabalhar com ela.
Mattheiu Ricard
Sofrimento por si só não é tão ruim
É possível tomar nossa existência como um “mundo sagrado”, encarar esse lugar como espaço aberto em vez de um escuro vazio claustrofóbico. É possível ter uma relação amigável com nossa natureza de ego, é possível apreciar a estética da dança de formas na vacuidade, e existir nesse lugar como reis majestosos de nossas próprias consciências.
Mas, para fazer isso, precisaríamos desistir de “agarrar” para fazer tudo sair do jeito que imaginamos em nossos devaneios.
Então, o sofrimento é causado pela ignorância ou “agarrar ignorante” — ou é exagerado pela ignorância ou “agarrar ignorante” — e apego pela noção de como imaginamos que deveria ser. Isso é o que causa o “sofrimento do sofrimento”. O sofrimento por si só não é tão ruim. É o ressentimento contra o sofrimento que é a verdadeira dor.
Por eu facilmente ficar chateado e agitado, isso mostra que não tenho a mente de renúncia. A mente de renúncia de certo modo é bem simples. Temos mente de renúncia quando compreendemos que tudo isso não é grande coisa. Alguém pisa em seu dedão, qual a grande coisa aí? Quanto mais nos acostumarmos com essa ideia, mais temos mente de renúncia. Pelo menos, tento ver por que transformo tudo em uma coisa tão grande. Estou meramente dando a você um modelo de como invocar a mente de renúncia.
É um pouco como esse exemplo. Estamos andando nesse deserto por tanto tempo, e tudo que jorra, que é aquoso, é tão importante para nós. Mesmo se vemos uma miragem, nosso único desejo é se aproximar da água sem jamais compreender que é só uma miragem. Se você não sabe que é uma miragem e vai até lá, tudo que você obtém é um grande desapontamento. Então, saber que é só uma miragem é a mente de renúncia. [...]
A renúncia de algum modo tem essa conotação de abrir mão de algo. Mas é como o exemplo da miragem. Você não pode abrir mão da água porque não há nenhuma água; é só uma miragem. Além disso, você não precisa abrir mão de uma miragem porque qual é o sentido de abrir mão de uma miragem? A pessoa simplesmente só precisa saber que é uma miragem. Tal compreensão é uma grande renúncia. No momento que você sabe que é uma miragem, o mais provável é que você nem vá até lá porque sabe que é falso; ou mesmo que vá, não há desapontamento, porque você já sabia o que havia ali. No mínimo, você terá só um pequeno desapontamento. É por isso que Jamgon Kongtrul disse que a mente de renúncia é como uma fundação. [...]
A mente de renúncia não tem nada a ver com sacrifício. Como já mencionei, quando falamos sobre renúncia, de algum modo ficamos todos assustados porque pensamos que temos que abrir mão de alguns bens, algo valioso, algumas coisas importantes. Mas não há nada que é importante; não há nada que solidamente exista. Tudo que você está abrindo mão é, na verdade, uma vaga identidade. Você compreende que isso não é verdadeiro, não é absoluto; é esse o modo e o porquê de desenvolver renúncia.
A renúncia não precisa ser vista como negativa. Fui ensinada de que ela tem a ver com desistir de segurar. Uma pessoa renuncia ao “fechar-se” e “desligar-se” da vida. Poderia ser dito que renúncia é a mesma coisa que se abrir para os ensinamentos do momento presente. [...]
A renúncia é compreender que nossa saudade de ficar em um mundo protegido, limitado e bonitinho é insanidade. Uma vez que você começa a captar o sentimento de quão grande é o mundo e quão vasto é o nosso potencial para experimentar a vida, então você realmente começa a entender a renúncia.
Quando sentamos em meditação, sentimos nossa respiração assim que ela acontece, e sentimos uma certa vontade de apenas estarmos abertos ao momento presente. Então, nossas mentes passam a vagar entre todo tipo de histórias, artificialidades e realidades fabricadas, e dizemos a nós mesmos: “isso é pensar”. Dizemos isso com muita gentileza e muita precisão.
Toda vez que estamos prontos para deixar de lado a trama, e toda vez que estamos prontos para deixar-se ir no final da expiração, isso é renúncia fundamental: aprender como abandonar o segurar e o manter.
Conclusão da meditação
Ao meditar, é importante saber claramente a condição mental que você quer chegar como a conclusão da meditação. Textos lamrim descrevem o objetivo de cada meditação, e queremos garantir que nossa mente chegue a essa conclusão e não a uma conclusão incorreta ou irrelevante.
Por exemplo, ao meditar sobre as desvantagens do pensamento centrado no ego, nossa mente pode distorcer essa meditação e concluir: “sou uma pessoa horrível por ser tão egoísta”. Essa é a conclusão errada que se chega com essa meditação. O Buda não ensinou as desvantagens do centramento no ego para que ridicularizemos a nós mesmos.
Se você meditar em um tópico lamrim e chegar a uma conclusão incorreta, a meditação não foi feita corretamente. No caso acima, pensar “sou uma pessoa ruim por ser tão egoísta”, indica que não compreendemos o objetivo da meditação e provavelmente caímos em um velho hábito de nos colocarmos para baixo. Pare e pergunte a si mesmo:
“Qual conclusão o Buda quer que eu chegue a partir dessa meditação?”. Ele quer que eu tenha certeza que a mente centrada no ego é o verdadeiro “inimigo”, que destrói minha felicidade. O centramento no ego não é uma parte intrínseca de mim; não é quem eu sou. Trata-se de um pensamento incorreto, mas profundamente enraizado, que cria problemas para mim. Posso me libertar disso. Já que quero ser feliz, vou compreender essa atitude egoísta pelo que ela é, e vou parar de seguí-la! Em vez disso, vou cultivar amor e compaixão por todos os seres.”
Essa é a conclusão que você quer chegar.
“Guided Meditations on the Stages of the Path”
“A MEDITAÇÃO NÃO É UMA PRÁTICA PARA TENTAR ATINGIR O ÊXTASE, BEM-AVENTURANÇA ESPIRITUAL, OU TRANQÜILIDADE, NEM É A TENTATIVA DE SE TORNAR UMA PESSOA MELHOR. É SIMPLESMENTE A CRIAÇÃO DE UM ESPAÇO EM QUE SOMOS CAPAZES DE EXPOR E DESFAZER OS NOSSOS JOGOS NEURÓTICOS, DOS NOSSOS AUTO-ENGANOS, NOSSOS MEDOS E ESPERANÇAS ESCONDIDAS.” CHOGYAM TRUNGPA
domingo, 3 de agosto de 2014
A PRIMEIRA IMPRESSÃO, NÃO PODE SER SEMPRE A QUE FICA
Em minhas andanças de viagens de ônibus, me deparei com um fato inusitado, embarcando na rodoviária de Araraquara com destino a São Paulo tomei o assento número 2, que constava no bilhete da passagem destinada a passageiros preferênciais, pois tenho o direito adquirido por portar mais de 60 anos, vim nesse coletivo até a cidade de São Carlos, na poltrona ao lado de número 1, não tinha passageiro.
Desci na rodoviária de São Carlos para ir ao sanitário, e deixei uma jaqueta no banco, quando voltei tinha um senhor da melhor idade sentado na poltrona 2, pelos nossos condicionamentos já começamos a julgar, e achei uma certa ousadia desse senhor, pois a passagem dele deveria ser a de número 1.
Pois bem, não parou por aí, esse senhor além de sentar em poltrona errada ligou seu celular, e colocou seu braço esquerdo tomando todo o apoio que divide os assentos, e ainda ultrapassou para o meu lado, logo pensei: que sujeito folgado.
Tentei me acalmar, e tirei uma soneca até o posto próximo de Limeira onde ele faz uma parada de 20 minutos.
Desci novamente, fui até o sanitário, e fiquei aguardando próximo do ônibus o retorno do motorista para seguir viagem.
Eis que nesse interim, esse senhor se aproximou de mim, e perguntou se o ônibus em frente era o que estávamos viajando, confirmei, e ele todo sorridente me ofereceu biscoitos de polvilho, e começou a conversar.
Compensando sua desatenção em relação ao ônibus, ele tinha percebido que uma mulher e seus dois filhos que tinha descido estava subindo em coletivo errado, e comentou: que um dos meninos já tinha observado isso.
Então ele começou a falar sobre sua vida, dizendo que era vigia de um estacionamento de carros, que era pouco alfabetizado, que tinha sofrido um atropelamento de carro quando voltava de bicicleta do trabalho, que no momento do acidente não tinha sentido nada, porém depois começou a sentir dores, e acabou sendo hospitalizado, teve que usar muletas durante algum tempo, e atualmente estava quase que todo recuperado.
Disse-me também que estava voltando da cidade de São Carlos, onde tinha ido visitar uma irmã.
Durante seus relatos pude sentir, que tinha feito uma pré opinião totalmente errada sobre sua pessoa.
Diante de um pensamento da grande maioria da população brasileira, que entende que ser normal é sempre levar vantagem em tudo o que fazemos, percebi que segundo esse raciocínio invertido, esse senhor não era normal, e me fêz lembrar o comportamento do personagem do filme "Forrest Gump", e eu vou além disso pelo que pude aquilatar, esse senhor de 66 anos é muito mais puro e ingênuo do que o do filme.
Pelo seu relato, me disse que era casado com sua ex mulher, uma professora de escola pública, e com a qual teve 3 filhos, porém o caçula pelo que veio a descobrir foi fruto da traição de sua mulher com seu próprio irmão, mesmo sabendo que esse filho não era de seu sangue lhe contou o ocorrido, e afirmou que o amava assim mesmo, e o filho também lhe disse, que o considerava como seu verdadeiro pai.
Ainda afirmou, que sua ex mulher mora na mesma casa que ele construiu, porém sem mais a união de corpos, mas que ainda compra alimentos, gaz, e tudo o mais que for necessário.
Relatou que tem consulta com psicólogo, para poder superar essa situação.
Contou também, que esse irmão inescrupuloso manteve relações com outra cunhada, e foi pai de uma menina com ela, o que levou seu outro irmão a cometer suicídio.
Disse que também pensou em suicídio, e amaldiçoou o irmão traidor, porém hoje o perdoou, mas não quer mais contato com ele.
Quando chegamos na rodoviária de São Paulo disse:
- Pocha, a gente nunca mais vai se ver, e eu gostei tanto de conversar com o senhor, poderíamos marcar um dia para comermos uma feijoada. Ao que lhe respondi que não comia carne, e ele com muita inocência retrucou:
- Mas como a gente faz então?, o que o senhor come?
O aconselhei a não comer mais carne, mas se não conseguisse, a preferir carne branca ao invés da vermelha.
E ele respondeu:
- Eu comi carne a vida inteira, o que faço agora?. Eu não quero morrer entupido por colesterol igual a minha irmã.
Passou seu número de celular para mim. E disse:
O senhor vai ligar mesmo?
Respondi que sim.
Tanta violência que vemos ser noticiada na mídia, geralmente tem início no próprio lar, uns reagem de forma passiva, e outros se revoltam e tomam atitudes mais violentas.
JOSÉ BENTO
quinta-feira, 31 de julho de 2014
TONGLEN
Conheça o tonglen e saiba porque precisamos remar contra a maré.
Altruísmo Amor Auto Estima Budismo Causas da Felicidade Causas do Sofrimento Compaixão Treino da Mentejul 29, 2014 “Se você quer que os outros sejam felizes, pratique compaixão. Se você quer ser feliz, pratique compaixão”.
~ Tenzin Gyatso, o XIV Dalai Lama
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Tonglen, a prática da compaixão
por Ty Phillips.
Para aqueles de nós que não estão familiarizados com o budismo tibetano, a palavra tonglen não tem nenhum significado.
Mas seu valor como uma prática pode proporcionar uma mudança profunda para todos nós.
Tonglen basicamente significa dar e receber. É uma prática de compaixão, e sua única intenção é levar o sofrimento dos outros sobre nós mesmos e dar-lhes a nossa saúde, paz e felicidade em troca. Para muitos ocidentais, isso soa como uma ideia absurda e tola; até mesmo os nossos trabalhadores de saúde mental que as vezes encorajam uma visão de mundo auto centrada, a fim de se auto-curar.
Por que pensar em assumir os fardos de outras pessoas?
Nossa prática pode começar com a simples idéia de querer bem a alguém próximo, que sentimos amor: um cônjuge, um filho, um amigo. Não precisamos começar com todo o planeta.
Nós simplesmente nos sentamos e sentimos nossas emoções sobre esta pessoa brotando-nosso amor para com o nosso filho ou filha, o nosso amor para com nossos cônjuges ou entes queridos. Nós permitimos que este sentimento cresça e nós sentimos que isso flui em direção a eles com um desejo mais profundo e mais intenso para o seu bem-estar. Não tem que ser mais complexo ou profundo do que isso.
À medida que progredimos em nossa prática de aspirar o bem-estar e um fim ao sofrimento para outras pessoas, podemos começar a tentar com alguém que é neutra para nós ou colega de trabalho. Notamos que eles têm um resfriado, ou estão nervosos sobre uma entrevista ou algum outro aspecto de sua vida. Podemos compreender esses sentimentos já que somos capazes de nos relacionar com eles. Nós também tivemos a doença e a ansiedade sobre uma situação, neste caso uma entrevista. Nós permitimos que o nosso entendimento e compreensão cresçam, e com isso também, nosso senso de conexão através de uma experiência compartilhada e emoção. Nós entendemos e desejamos que eles se sintam à vontade e naturalmente desejamos-lhes sorte e sucesso.
Este processo de crescimento e empatia relacional é o segundo passo. É fácil e calmo. Não é um auto-martírio. É apenas um simples cultivo de empatia.
À medida que começar a se conectar com a nossa capacidade de se relacionar e sentir empatia e preocupação com os outros, podemos começar com os outros seres sencientes; o sofrimento dos animais nas mãos de seres humanos, crianças famintas ou pessoas sem-teto, uma mulher agredida, uma criança desaparecida.
Se nós nos sentamos com essas situações, podemos entender o sentimento de medo, dor ou temor que está intrinsecamente ligado a eles.
Podemos entender que há mais do que apenas a nossa família e amigos neste mundo que enfrentam os mesmos medos e dores que nós sentimos. Começamos a se relacionar com uma expressão maior da vida e da conectividade. Desejamos estes outros seres paz e liberdade.
Como os nossos sentimentos de compaixão começam a crescer, percebemos que a nossa capacidade de se conectar e se relacionar com outras pessoas tem se expandido muito.
As paredes que construímos para empurrar os outros para longe estão desmoronando.
Idéias de eu e eles estão começando a desaparecer.
Então, com isso, aumentamos a nossa prática para incluir pessoas que não necessariamente ligamos. As pessoas do sistema prisional; pessoas que sempre estão demonizado algum partido político contrário, ou mesmo aqueles que nos feriram. Eles também são capazes de sentir dor e medo. Eles sofrem e querem proteger seus entes queridos também. Suas ações, muito parecidas com as nossas, são uma projeção de seus medos e apegos.
Nós podemos sentar e lembrar como costumavamos nos sentir quando nosso mundo era pequeno – a noção de cuidar de ”mim” e do ”meu” e ”o resto que se vire”, que era isso.
Nossa idéia de compaixão cresceu e agora podemos ver como realmente somos semelhante a outros que só querem a mesma sensação de segurança, mesmo que a sua luta para encontrá-la pode ser prejudicial. Suas intenções são geralmente boas. Eles querem a liberdade tanto quanto nós.
Eles querem uma sensação de segurança em um mundo que só conhece constante mudança e fluxo. Talvez a sua dor não é tão diferente da nossa. E nós começamos a nos conectar. Começamos a sentir que o seu bem-estar, bem como o nosso, pode mudar a perspectiva de jogo. E assim, desejamos-lhes bem. Queremos ajudá-los a crescer e florescer.
Quando outra pessoa te faz sofrer, é porque ele sofre profundamente dentro de si mesmo, e seu sofrimento está transbordando. Ele não precisa de punição, ele precisa de ajuda.
Thich Nhat Hanh
Quando começamos nossa prática de tonglen, talvez esta mensagem não tenha sido algo que estávamos dispostos a entreter. Veio contra o nosso “instinto animal natural do olho por olho, matar ou ser morto.”
Como a nossa prática se aprofundou, vimos cada vez menos de uma necessidade de tais barreiras extremas entre nós e eles. A idéia de ”eu e os meus” diminuiu e uma sensação de verdadeira conexão com os outros floresceu. A idéia de assumir o ônus de um outro ser não parece ser uma idéia tão tola mais. Na verdade, parece que é o estado natural da nossa mente.
Como prática tonglen aprofunda e continua, e nossa interconexão torna-se óbvia, percebemos que nossas paredes caíram, nossas dores diminuíram, o nosso medo e angústia tornou-se quase inexistente e, vejam só, o que é essa coisa na minha cara?
Sim, é um sorriso. Em nossa busca para curar os outros, nós nos curamos. Nós abandonamos nossas delusões e falsidades e nós começamos a nos permitir ser totalmente abertos, totalmente conectados e totalmente amados.
Remando contra a maré, instruções precisas do Tonglen
A prática de tonglen reverte a lógica habitual de evitar o sofrimento e buscar o prazer. Nesse processo, nós nos libertamos de padrões muito antigos de egoísmo. Começamos a sentir amor, tanto por nós mesmos quanto pelos demais; passamos a cuidar de nós mesmos e dos outros. Tonglen desperta nossa compaixão e nos faz conhecer uma visão muito mais ampla da realidade.
Para sentir compaixão por outras pessoas, precisamos sentir compaixão por nós mesmos. Precisamos nos preocupar, principalmente, com as pessoas que sentem medo, raiva, inveja, que são dominadas por todo tipo de vício, que são arrogantes, orgulhosas, mesquinhas, egoístas, más — você pode escolher. Ter compaixão e carinho por elas significa não fugir da dor de encontrar essas características em si mesmo. De fato, toda a nossa atitude diante da dor pode mudar. Em vez de rechaçá-la e de nos escondermos dela, é possível abrir nosso coração e nos permitirmos sentir essa dor, senti-la como algo que nos abranda, purifica e nos torna muito mais amorosos e bondosos.
A prática de tonglen é um método para nos conectarmos com o sofrimento — nosso próprio sofrimento e o que nos rodeia onde quer que possamos ir. É um método que nos leva a superar nosso medo da dor e a dissolver a dureza de nosso coração. Acima de tudo, faz despertar a compaixão que é inerente a todos nós, não importa quanto possamos parecer cruéis ou frios.
Iniciamos essa prática recebendo em nós mesmos a dor de alguém que sabemos estar em sofrimento e desejamos ajudar. Se sabemos que uma criança está sofrendo, por exemplo, inspiramos essa dor, desejando que ela se liberte totalmente do pesar e do medo. Quando expiramos, enviamos felicidade, alegria, ou o que lhe traga alívio. Esta é a essência da prática: inspiramos a dor do outro, para que ele possa sentir-se bem e ter mais espaço para relaxar e abrir, e expiramos, transmitindo relaxamento ou aquilo que sentimos que pode trazer alívio e felicidade.
Freqüentemente, entretanto, não conseguimos realizar essa prática porque nos vemos frente a frente com nosso próprio medo, nossa resistência, raiva ou qualquer outro sofrimento pessoal que esteja presente.
Nesse momento, podemos mudar o foco e começar a praticar tonglen por aquilo que estamos sentindo e por milhares de pessoas que, como nós, naquele exato momento, sentem precisamente a mesma impotência e angústia. Talvez sejamos capazes de dar um nome à nossa dor. Reconhecemos claramente o terror, repulsa, raiva ou desejo e vingança. Então, inspiramos por aqueles que estão dominados pelas mesmas emoções e irradiamos alívio ou qualquer outra sensação que proporcione espaço para nós mesmos e para essas incontáveis pessoas. Às vezes, não conseguimos dar um nome ao que estamos sentindo. Mesmo assim, podemos perceber sua presença — um aperto no estômago, uma certa opressão ou o que quer que seja. Simplesmente entramos em contato com o que estamos sentindo e inspiramos, trazendo-o para dentro de nós e fazendo isso por todos. Então, enviamos para fora alívio para todos.
Diz-se, freqüentemente, que essa prática contraria o padrão costumeiro que usamos para não desmoronar. Na verdade, a prática de tonglen realmente se opõe à nossa tendência habitual de querer tudo ao nosso próprio modo, de desejar que tudo dê certo para nós, independente do que aconteça aos outros. Ela desfaz os muros que construímos ao redor de nosso coração, as camadas de autoproteção que lutamos tanto para criar. Usando uma linguagem budista, podemos dizer que dissolve a fixação e o apego do ego.
A prática de tonglen reverte a lógica habitual de evitar o sofrimento e buscar o prazer. Nesse processo, nós nos libertamos de padrões muito antigos de egoísmo. Começamos a sentir amor, tanto por nós mesmos como pelos demais; passamos a cuidar de nós mesmos e dos outros. Tonglen desperta nossa compaixão e nos faz conhecer uma visão muito mais ampla da realidade. Ele nos apresenta a amplidão ilimitada de shunyata. Quando o praticamos, começamos a nos conectar com a vasta dimensão de nosso ser. Inicialmente, deixamos de dar tanta importância a tudo e nossa experiência passa a ser menos sólida do que parecia.
A prática de tonglen pode ser feita para os que estão doentes, para os que estão morrendo ou já morreram, para todos aqueles que, de alguma forma, estão sofrendo. Tonglen pode ser praticado como uma meditação formal, ou em qualquer lugar e a qualquer momento. Estamos passando e vemos alguém em sofrimento — ali mesmo, começamos a inspirar essa dor e a exalar alívio. Ou então, ao ver alguém sofrendo, podemos desviar o olhar. Esse sofrimento desperta nosso medo ou raiva, nossa resistência e confusão. Portanto, naquele exato momento, podemos praticar tonglen por todas as pessoas que, assim como nós, desejam ser corajosas, mas são covardes. Em vez de nos punirmos, podemos usar nossos próprios entraves como o primeiro degrau para compreender o que outras pessoas, no mundo inteiro, estão enfrentando. Inspirar por todos nós e expirar por todos nós. Usar o que parece veneno como remédio. Podemos usar nosso sofrimento pessoal como um caminho em direção à compaixão por todos os seres.
Quando praticamos tonglen no momento em que nos deparamos com o sofrimento, apenas inspiramos e expiramos — inspiramos a dor, exalamos a amplidão e o alívio.
Quando praticamos tonglen como uma meditação formal, devemos seguir quatro passos:
1. Em primeiro lugar, descanse sua mente por alguns segundos em um estado de abertura ou quietude. Esse estágio é tradicionalmente chamado de lampejo do bodhichitta absoluto, ou de súbita abertura à amplidão e clareza fundamentais.
2. Em seguida, trabalhe com a textura. Inspire o calor, a escuridão e o peso — a sensação de claustrofobia — e expire serenidade, claridade e leveza — a sensação de frescor. Inspire profundamente, por todos os poros, e expire, irradie completamente, usando todos os poros de seu corpo. Faça isso até que essas sensações estejam sincronizadas com sua inspiração e expiração.
3. No passo seguinte, trabalhe uma situação pessoal — qualquer situação dolorosa que seja real para você. Tradicionalmente, começa-se praticando tonglen por alguém com quem nos preocupamos e que queremos ajudar. Entretanto, como já mencionei, quando seus próprios problemas o impedem de prosseguir, você pode realizar a prática pela dor que está sentindo e, simultaneamente, por todos aqueles que, como você, passam pelo mesmo tipo de sofrimento. Por exemplo, se está se sentindo incapaz, inspire essa sensação, por si mesmo e pelos outros que estão no mesmo barco, e exale confiança, sentimento de ser capaz ou de alívio, da forma que desejar.
4. Finalmente, torne esse processo mais abrangente. Se você está praticando tonglen por alguém que ama, estenda a prática a todos aqueles por quem nutre o mesmo sentimento. Se está praticando por alguém que viu na televisão ou na rua, faça o mesmo por todos os que estão em situação semelhante. Não se limite a uma única pessoa. Talvez já seja suficiente praticar por todos aqueles que, como você, estão dominados pela raiva, medo, ou por qualquer outro sentimento que também o aprisione. Entretanto, em todos esses casos, você pode ir além. Você pode praticar tonglen por aqueles que considera inimigos — aqueles que o ferem ou ferem alguém. Faça tonglen por eles, pense neles como dominados pela mesma confusão e impotência que vê em si mesmo e naqueles que ama. Inspire a dor deles, expire alívio.
A prática de tonglen pode ser infinitamente ampliada. À medida que pratica, gradualmente e ao longo do tempo, verá que sua compaixão naturalmente se expande, e o mesmo acontece com a percepção de que as coisas não são tão sólidas quanto você pensava. À medida que pratica, gradualmente e em seu próprio ritmo, ficará surpreso ao perceber-se cada vez mais capaz de ajudar os outros, mesmo em situações que pareciam insolúveis.
Pema Chödrön, no livro ”Quando tudo se desfaz”
Tradução de Helenice Gouvêa. Rio de Janeiro: Gryphus, 1999, p. 99-103.
“Quando você se encontra preso em si mesmo, o Tonglen abre o seu ser para a verdade do sofrimento dos outros; quando o seu coração está bloqueado, o Tonglen destrói as forças que o obstruem, e quando se sente distante de quem está sofrendo diante de você, ou tomado pela amargura e o desespero, o Tonglen o ajuda a encontrar em si mesmo e revelar a radiância amorosa e expansiva da sua verdadeira natureza.” Sogyal Rinpoche
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A imagem que ilustra o post é uma dança chamada ‘Guanyin de Mil Mãos e Mil Olhos’, representação de Avalokiteshvara ou Chenrezig, o Buda da Compaixão, ele tem mil braços, com um olho na palma de cada mão, demonstrando que olha e cuida de infinitos seres vivos. Chenrezig está dentro de nós porque o amor e a compaixão não são qualidades adicionadas à mente. Estas qualidades são parte do estado desperto da mente, mesmo que no momento este estado exista somente como um potencial em nós. Cada pessoa cujo coração é movido pelo amor e pela compaixão, que age profunda e sinceramente pelo benefício de todos, sem interesse para a fama, o lucro, a posição social ou reconhecimento, expressam a atividade de Chenrezig.
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quarta-feira, 9 de julho de 2014
AS OITO PREOCUPAÇÕES MUNDANAS
Pagina Inicial As Oito preocupações mundanasAs Oito preocupações mundanas
Alan WallaceBudismoCausas da FelicidadeCausas do SofrimentoFelicidadeMeditaçãoMentePema Chödrönjul 7, 2014
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1.3K Flares 1.3K Flares × Podemos achar que, de algum modo, devemos tentar erradicar esses sentimentos de prazer e dor, perda e ganho, louvor e culpa, prestígio e desonra. Entretanto, seria uma abordagem mais realista tentar conhecê-los, ver como eles nos fisgam, observar como colorem nossa percepção da realidade, perceber que não são assim tão sólidos. Então, os oito dharmas materiais se transformariam em meios para nos tornarmos mais sábios, bondosos e felizes.
Um dos ensinamentos budistas clássicos sobre esperança e medo refere-se aos chamados oito dharmas materiais [ou oito dharmas mundanos], que são pares de opostos: quatro de que gostamos e a que nos apegamos, e quatro de que não gostamos e tentamos evitar. A mensagem básica é a de que sofremos quando ficamos envolvidos neles.
Em primeiro lugar, gostamos do prazer e somos apegados a ele. Ao contrário, não gostamos da dor. Em segundo lugar, gostamos de louvores e somos atraídos por eles. Tentamos evitar a crítica e a culpa. Em terceiro, gostamos de prestígio e damos valor a ele. Não gostamos da desonra e tentamos evitá-la. Finalmente, somos apegados ao ganho, a conseguir aquilo que desejamos. Não gostamos de perder o que possuímos.
De acordo com esse ensinamento muito simples, estar imerso nesses quatro pares de opostos — prazer e dor, perda e ganho, prestígio e desonra, louvor e culpa — é o que nos mantém presos ao sofrimento do samsara.
Sempre que nos sentimos bem, nossos pensamentos são geralmente sobre os aspectos de que gostamos — louvor, ganho, prazer e prestígio. Quando nos sentimos insatisfeitos, irritados e fartos, nossos pensamentos e emoções estão, provavelmente, girando em torno de algo como dor, perda, desonra e culpa.
Vamos tomar o louvor e a culpa. Alguém chega até nós e diz: “Você está velho”. Se acontece de querermos ser velhos, vamos nos sentir muito bem. Ouvimos isso como elogio, sentimos grande prazer e um sentimento de ganho e prestígio. Entretanto, imagine que passamos o ano inteiro obcecados pela idéia de nos livramos de nossas rugas e de termos uma linha do queixo mais firme. Quando alguém diz “Você está velho”, encaramos isso como um insulto. Acabamos de ser criticados e experimentamos um sentimento de dor correspondente.
Mesmo se pararmos agora de falar sobre esse ensinamento específico, já é possível perceber que muitas de nossas variações de humor estão relacionadas com a maneira pela qual interpretamos o que acontece. Se olharmos atentamente para as alterações de nossos estados de espírito, veremos que sempre existe algo que as desencadeia. Carregamos uma realidade subjetiva que está continuamente fazendo disparar reações emocionais. Alguém diz “você está velho” e entramos em um estado mental específico — de alegria ou tristeza, de encanto ou aborrecimento. Para outra pessoa, a mesma experiência pode ser completamente neutra.
Palavras são faladas, cartas são recebidas, telefonemas são dados, o alimento é ingerido, as coisas acontecem ou não acontecem. Acordamos pela manhã, abrimos os olhos e as situações sucedem-se o dia todo, até que vamos dormir novamente. Mesmo durante o sono, muita coisa acontece. Durante toda a noite, encontramos as pessoas e situações de nossos sonhos. Como reagimos ao que ocorre? Somos apegados a determinadas experiências? Rejeitamos ou evitamos outras? Quanto somos fisgados pelos oito dharmas materiais?
A ironia está no fato de que somos nós mesmos que os construímos, por meio de reações ao que nos acontece. Eles não são concretos em si mesmos. Mais estranho ainda é o fato de também não sermos tão sólidos assim. Temos um conceito a respeito de nós mesmos que reconstruímos momento a momento e tentamos proteger por reflexo. Entretanto, esse conceito que estamos protegendo é questionável. É tudo “muito barulho por nada” — como empurrar e puxar uma ilusão que se desfaz.
Podemos achar que, de algum modo, devemos tentar erradicar esses sentimentos de prazer e dor, perda e ganho, louvor e culpa, prestígio e desonra. Entretanto, seria uma abordagem mais realista tentar conhecê-los, ver como eles nos fisgam, observar como colorem nossa percepção da realidade, perceber que não são assim tão sólidos. Então, os oito dharmas materiais se transformariam em meios para nos tornarmos mais sábios, bondosos e felizes.
Para começar, durante a meditação, podemos perceber como as emoções e os estados de humor estão relacionados com ter ganhado ou perdido algo, ter sido elogiado ou acusado, e assim por diante. É possível notar que aquilo que começa como um simples pensamento, uma mera qualidade de energia, rapidamente se manifesta sob uma forma desenvolvida de prazer ou sofrimento. É claro que precisamos de uma certa coragem, já que gostaríamos que tudo ficasse na coluna do prazer/louvor/prestígio/ganho. Gostaríamos de nos assegurar de que tudo vai ser a nosso favor. No entanto, quando olhamos bem, vemos que não temos nenhum controle sobre o que nos acontece. Temos todo tipo de alteração de humor e reação emocional. Elas simplesmente vêm e vão, interminavelmente.
Às vezes, seremos completamente aprisionados por um drama. Ficaremos tão aborrecidos quanto ficaríamos se alguém entrasse na sala e nos desse um tapa no rosto. Nesse momento é possível pensar: “Espere um pouco — o que está acontecendo?”. Olhamos para a situação e conseguimos enxergar que, de repente, sentimos que perdemos algo ou fomos insultados. Não sabemos de onde vem essa sensação, mas lá estamos nós, mais uma vez fisgados pelos oito dharmas materiais.
Exatamente nesse momento, podemos sentir essa energia, fazer o máximo para permitir que os pensamentos se dissolvam e dar a nós mesmos uma folga. Para além de todo o estardalhaço e confusão, existe um céu enorme. Bem ali, no meio da tempestade, podemos parar e relaxar.
Podemos também ser completamente levados por uma deliciosa, prazerosa fantasia. Olhamos para a situação e, do nada, sentimos que ganhamos, vencemos, fomos elogiados por algo. O que surge foge ao nosso controle e é totalmente imprevisível, como as imagens de um sonho. Entretanto, assim que se inicia, somos mais uma vez fisgados pelos oito dharmas materiais.
Os seres humanos são tão previsíveis! Um pequeno pensamento surge, cresce, e antes que possamos saber o que aconteceu, somos tomados pela esperança e pelo medo.
No século VIII, um homem notável introduziu o budismo no Tibete. Seu nome era Padmasambhava, o Nascido do Lótus. Era também chamado de Guru Rinpoche. A lenda conta que, certa manhã, ele simplesmente apareceu sentado em um lótus, no meio de um lago. Diz-se que essa criança incomum nasceu totalmente desperta, sabendo, desde o primeiro momento, que os fenômenos — exteriores e interiores — não possuem nenhuma realidade. O que ele não sabia era como funcionavam os fatos da vida cotidiana. Era um menino muito curioso. Percebeu, desde o primeiro dia, que atraía a todos com seu brilho e beleza. Notou também que, quando estava alegre e bem-humorado, as pessoas ficam felizes e o cobriam de elogios. O rei desse país ficou tão cativado por essa criança que levou Guru Rinpoche para viver em seu palácio e o tratava como filho.
Então, um dia, o menino foi brincar no alto do palácio, levando consigo os instrumentos rituais do rei: um sino e um cetro de metal chamado vajra. Feliz, dançava por ali, fazendo soar o sino e girando o vajra. Então, como grande curiosidade, atirou-os no espaço. Eles caíram rua abaixo, sobre a cabeça de duas pessoas que passavam, matando-as imediatamente. O povo daquele país sentiu-se tão ultrajado que exigiu que o rei expulsasse Guru Rinpoche. Nesse mesmo dia, sem bagagem ou alimento, ele saiu sozinho para a floresta.
Essa criança curiosa havia aprendido uma poderosa lição sobre o funcionamento do mundo. A história conta que esse breve mas vívido encontro com o elogio e a culpa era tudo de que precisava para compreender o movimento do samsara na vida cotidiana. A partir desse momento, abandonou a esperança e o medo, e trabalhou com entusiasmo para despertar os outros.
Também podemos viver assim. Em tudo que fazemos, podemos explorar esses pares opostos tão familiares. Em vez de cair automaticamente nos padrões habituais, podemos começar a perceber como reagimos quando alguém nos faz um elogio. Como reagimos quando alguém nos culpa? Como reagimos quando perdemos alguma coisa? E quando achamos que ganhamos algo? Quando sentimos prazer ou dor, isso é simples? Apenas sentimos prazer ou dor? Ou existe todo um roteiro que se desenrola paralelamente?
Quando nos tornamos inquisitivos sobre esses fatos, olhamos para eles, vemos quem somos e o que fazemos com a curiosidade de uma criança, aquilo que parecia um problema transforma-se em fonte de sabedoria. Estranhamente, essa curiosidade começa a cortar pela raiz o que chamamos de sofrimento do ego ou egocentrismo e enxergamos com mais clareza. Normalmente, somos levados por eles em qualquer dessas direções, reagimos com nosso estilo habitual e nem ao menos percebemos o que está acontecendo. Antes de nos darmos conta, já escrevemos uma novela sobre os grandes erros de alguém, sobre nossos grandes acertos, ou sobre nossas justas razões para conseguir isso ou aquilo. Quando começarmos a compreender esse processo como um todo, ele se torna muito mais leve.
Somos como crianças construindo um castelo de areia. Nós o enfeitamos com lindas conchas, pedaços de madeira e caquinhos de vidro colorido. O castelo é nosso, sabemos que, inevitavelmente, ele será levado pela maré. O truque está em desfrutar dele ao máximo, sem se apegar e, quando chegar uma onda, deixar que ele se dissolva no mar.
Permitir que as coisas se dissolvam é, às vezes, chamado de desapego, mas sem a qualidade fria e distante que freqüentemente se associa a essa palavra. Neste caso, o desapego inclui mais bondade e profunda intimidade. Na verdade, é um desejo de conhecer semelhante à curiosidade de uma criança de três anos. Queremos conhecer nossa dor para podermos parar de fugir interminavelmente. Querer conhecer nosso prazer para podermos parar de agarrar continuamente. Então, de algum modo, nossas perguntas tornam-se mais amplas e nossa curiosidade, mais vasta. Queremos entender a perda, de modo que possamos compreender os demais quando sua vida desmorona. Queremos entender o ganho, para que possamos compreender outras pessoas quando estão encantadas ou quando se tornam arrogantes, empolgadas e envaidecidas.
Quando nos tornamos mais perspicazes e compassivos diante de nossas próprias dificuldades, espontaneamente sentimos mais ternura pelos outros seres humanos. Ao conhecer nossa própria confusão, ficamos mais dispostos e capazes para colocar a mão na massa e tentar aliviar a confusão dos outros. Se não olharmos para a esperança e o medo, observarmos os pensamentos que surgem e a reação em cadeia que se segue — se não nos treinarmos para ficar sentados, unidos a essa energia, sem sermos tomados pelo drama —, vamos sempre sentir medo. O mundo em que vivemos, as pessoas que encontramos, os seres que surgem no vão da porta — tudo vai se tornar cada vez mais ameaçador. Portanto, começamos simplesmente olhando para nossos próprios corações e mentes. Provavelmente, começamos a olhar porque nos sentimos inadequados ou estamos sofrendo e queremos entrar nos eixos. Gradualmente, entretanto, nossa prática evolui. Começamos a compreender que, assim como nós, outras pessoas estão também sendo fisgadas pela esperança e medo. Por toda parte, vemos a angústia causada pela crença nos oito dharmas materiais. Fica também bastante óbvio que as pessoas precisam de ajuda e que não há como ajudar alguém sem antes começar consigo mesmo.
Nossa motivação para a prática começa a mudar e desejamos nos tornar mais suaves e sensatos pelo bem de outras pessoas. Ainda desejamos ver como nossa mente funciona e como somos seduzidos pelo samsara, mas não mais apenas por nós mesmos. Passa a ser por nossos companheiros, filhos, chefes — pelo dilema humano em sua totalidade.
Pema Chödrön, no livro ”Quando tudo se desfaz”.
”A tradição budista lida com as suposições sobre a prioridade para o sucesso com um diagnóstico diferencial de oito partes chamado de “as oito preocupações mundanas”, oito direções para a busca da felicidade baseadas em suposições não investigadas. A fixação nessas preocupações subverte nossos melhores esforços, conduzindo ao sucesso falso ou frustração real.
As oito preocupações mundanas consistem em quatro pares de prioridades: buscar aquisições materiais e evitar sua perda; buscar o prazer dirigido pelo estímulo e evitar o desconforto; buscar o elogio e evitar a crítica; e manter a boa reputação e evitar a má reputação. Essas oito preocupações resumem, em geral, nossa motivação pela busca da felicidade, e este é exatamente o problema. As oito preocupações mundanas — que não são erradas em si — são a base de nossa motivação, e é a motivação, mais do que qualquer outro fator, que determina o resultado da prática espiritual.
Não há nada de errado em adquirir bens materiais — um carro, uma casa; e, inversamente, a pobreza não é necessariamente uma virtude. Não há nada de errado em aproveitar um pôr-do-sol, um bom livro, uma conversa agradável ou uma bela música. Não é errado ser elogiado. Ser amado e respeitado pelos outros também não é errado.
Por outro lado, não é ruim ser criticado pelos outros se você estiver levando uma vida benéfica e significativa. Muitos praticantes bem-sucedidos no darma estão contentes e felizes vivendo em total pobreza. A reputação pode melhorar e piorar, mas é possível que o contentamento permaneça constante. A verdadeira fonte da felicidade não está no domínio das oito preocupações mundanas. Ricos, pobres, elogiados, criticados, estimulados, entediados, respeitados, ultrajados — nenhuma dessas preocupações mundanas em si são fonte de felicidade. Nem impedem a felicidade.
O problema é que, quando nos concentramos nas preocupações mundanas como um meio para a felicidade, a vida se torna um jogo de dados. Não há garantias. Se você aspira à riqueza material, pode não conquistá-la, e se conseguir, não há garantias de que será feliz. Se aspira ao prazer, quando o estímulo acabar, a satisfação também terminará. Não existe felicidade duradoura em sair correndo atrás do prazer. As pessoas que são respeitadas e famosas tendem a ter os mesmos problemas pessoais que as outras.
A deficiência fatal das oito preocupações mundanas é que elas são Darma falsificado, modos mal dirigidos de buscar a felicidade e — ao confundir habitualmente as preocupações mundanas com o Darma genuíno — nossos esforços para atingir a felicidade genuína são continuamente sabotados.”
Alan Wallace, no livro ”Budismo com Atitude”.
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domingo, 6 de julho de 2014
MENSAGEM DE FÁBIO PARA CLAUDIA NO CENTRO ESPÍRITA ANA VIEIRA
-Minha amada Claudia!
-A alegria tomou conta do meu coração.
-O ambiente, as músicas, a alegria preencheu o meu ser imensamente.
-Querida a saudades é imensa.
-Tudo foi tão rápido...
-Saiba que Deus é justo, e nós é que não entendemos o seu propósito, e nos prendemos a essa vida na Terra.
-Achamos que fazemos o nosso melhor, que somos inocentes, e infelizmente nos achamos coitados.
-Engano minha querida.
-Muitas vidas já vivemos.
-Não é um castigo o que nos acontece.
-É um aprendizado.
-É uma forma de vivenciar sentimentos que em outras não conseguimos dar bem, ou mesmo não demos valor.
-Busque o conhecimento, pois ele nos dá condições de vivenciar com mais leveza e sabedoria.
-Coloque sempre Jesus em seu coração, e dê o seu melhor.
-Tudo passa...
-Força e esperança.
-Estou torcendo por você.
-Amo todos. Diga que estou com saudades.
-Amo, amo você!
-Fábio
09/11/2.013
quarta-feira, 25 de junho de 2014
BUDISMO E PSICANÁLISE: IMPERMANÊNCIA E INCONSCIENTE
A busca pelo conhecimento de si e a abordagem holística do ser humano e do mundo são apenas alguns dos aspectos comuns entre psicanálise e budismo
A busca pelo conhecimento de si e a abordagem holística do ser humano e do mundo são apenas alguns dos aspectos comuns entre psicanálise e budismo
Que pode haver em comum entre uma tradição religiosa de 25 séculos nascida na Índia uma sociedade de castas altamente hierarquizada e marcada pela visão holística do mundo e uma prática clínica inventada na Europa há pouco mais de 100 anos, surgida como expressão de uma cultura laica, racional e individualista? Se prestarmos atenção aos percursos históricos, aos vocabulários, a práticas e rituais e a certos objetivos específicos desses dois campos, podemos ver budismo e psicanálise como universos muito distintos: de um lado espiritualidade, contemplação e desapego ao eu, de outro teorias leigas, dispositivos clínicos e uma prática voltada para a ampliação da capacidade normativa do sujeito. No entanto, um olhar mais atento perceberá que por trás das aparentes diferenças há algumas afinidades muito importantes. Podemos citar pelo menos quatro.
O ponto de partida na experiência: tanto o budismo quanto a psicanálise partem da descrição e compreensão da experiência para desvelar a Natureza , o funcionamento do eu e para encontrar formas mais interessantes de lidar com os problemas. Aí se percebe um colorido fenomenológico comum a ambas as tradições porque seu centro (o que está sempre em questão, sendo observado e descrito) não é uma suposta natureza objetiva, acabada e independente é a experiência de si, do mundo, das relações com os outros, o modo como vivenciamos e interagimos com esses fenômenos.
A ênfase na ação: embora tenham produzido teorias complexas e arquiteturas conceituais muito sofisticadas, budismo e psicanálise são fundamentalmente saberes ligados a práticas, formas de intervir na existência. Tal como a filosofia era vista na Antigüidade, budismo e psicanálise são hoje instrumentos para agir no mundo, mais do que para simplesmente conhecê-lo. De ambos se poderia dizer o que o filósofo francês Georges Canguilhem disse a propósito da produção de conhecimento na medicina: o pathos precede o logos. É porque sofremos que somos instados a criar formas de descrever o eu, o mundo e a vida de modo que possamos transformar nossa existência, tornando-a mais interessante e digna de ser vivida.
O horizonte ético: em ambas as tradições, a reflexão teórica e as práticas delas decorrentes apontam necessariamente para uma mudança nas referências que configuram a maneira de conceber e viver a vida. O conhecimento de si está a serviço da transformação de si, voltada para a construção de uma vida mais criativa e livre de condicionamentos. Tanto no budismo quanto na psicanálise não faz sentido separar epistemologia e ética. Conhecer muito bem a história e os conceitos da doutrina de Buda não faz de ninguém budista. O que define alguém assim é a sua experiência (busca da iluminação por meio da compreensão do vazio e do cultivo da compaixão) e não os fundamentos teóricos que alguém é capaz de dominar. De modo semelhante, é possível que alguém freqüente o divã por anos a fio, a ponto de dominar o uso dos conceitos freudianos para descrever a si mesmo e suas relações com a vida sem que isso signifique que análise tenha de fato ocorrido. Esta só acontece quando tem lugar uma reorganização psíquica que testemunha uma transformação no modo como o sujeito se posiciona frente a seu desejo, a seus ideais e às expectativas e injunções que incidem sobre ele.
A perspectiva ecológica: tanto o budismo como a psicanálise rompem dualidades muito típicas do modo de pensar tradicional no Ocidente, que opõe sujeito e objeto, cérebro e mente, corpo e ambiente, interno e externo, eu e outro. Na perspectiva dos herdeiros de Buda e de Freud, cérebro, mente e mundo são vistos não como realidades independentes, mas como aspectos ou pontos de vista de uma mesma realidade, descritos com vocabulários diferentes. Estão, portanto, completamente imbricados uns nos outros, interagindo e influindo reciprocamente o tempo todo. A mente ou a experiência subjetiva emerge da ação do corpo no ambiente, é inscrita corporalmente (embodied) e está ancorada (embedded) no mundo físico e simbólico com o qual sustenta uma relação de afetação recíproca permanente. Budismo e psicanálise são, portanto, incompatíveis tanto com descrições mentalistas (nas quais o corpo é mero suporte da atividade do espírito) quanto com o reducionismo materialista, no qual a experiência de si é reduzida a seus correlatos biológicos ou físicos (depressão nada mais é do que disfunção de neurotransmissores).
É curioso observar como a ênfase na ação e nesta visão holística ou ecológica vem encontrando ressonância e tendo sua importância confirmada por estudos em várias áreas do conhecimento científico: investigações empíricas da psicologia do desenvolvimento, estudos sobre percepção com base nas teorias ecológicas do self, pesquisas neurocientíficas sobre a plasticidade neuronal e o impacto do ambiente na arquitetura cerebral, entre outros.
Além disso, budismo e psicanálise são campos plurais que abrigam tradições, movimentos e correntes de pensamento e de prática que se diferenciaram bastante. Depois de 25 séculos de existência, o primeiro desenvolveu grande número de escolas, hoje distribuídas basicamente em três grandes linhas. A psicanálise, com seus cento e poucos anos, também se desdobrou em algumas vertentes, das quais as mais relevantes atualmente são a lacaniana, a winnicottiana e a kleiniana.
Para a filosofia budista, tudo o que existe é impermanente: pessoas, objetos, experiências e sentimentos; quando mudam as causas, os fenômenos cessam
AS TRÊS MARCAS DA EXISTÊNCIA
Para o budismo, a análise da experiência de si, ou do eu, deve começar pela compreensão das três marcas da existência: a primeira é a impermanência (anitya), ou seja, a transitoriedade e a natureza condicionada de todos os fenômenos (do eu, dos objetos do mundo, de qualquer experiência, ou sentimento). Tudo o que existe é impermanente devido a sua natureza composta, o que significa que tudo depende de causas e condições para existir. Se essas cessarem, cessam também os fenômenos. Tudo está sujeito a aparecer e desaparecer.
A ausência de substância inerente, ou de existência independente, é a segunda marca da existência (anatman), também traduzida por não-substancialidade, não-essencialidade, ou não-eu. Como temos dificuldade em lidar com a impermanência e a não-substancialidade dos fenômenos e das formas, nos agarramos a eles, acreditamos e apostamos em sua permanência e substância.
Este apego é fonte de dukkha, outra marca da existência e a primeira das Quatro Nobres Verdades – pedra fundamental do budismo. Dukkha tem sido traduzido como sofrimento, mas a melhor sinônimo talvez seja insatisfatoriedade. A existência é inevitavelmente experimentada de forma alternada como boa ou má, feliz ou triste, promissora ou decepcionante. Tanto na alegria como na felicidade se encontram fontes de possíveis tristezas e dores (a perda de um ser querido, o fim de um amor). A experiência cíclica de satisfação e insatisfatoriedade é inevitável, já que desejos e anseios surgem naturalmente como decorrência do contato dos sentidos com o mundo ao redor. Este movimento (trishna, que significa sede, ânsia) compõe a segunda das Nobres Verdades (a causa da insatisfação), que é sucedida pelas duas outras Nobres Verdades: a percepção de que é possível superar o ciclo de sofrimento cíclico, e a compreensão do meio para alcançar esta liberação: o Caminho Óctuplo.
Com base nestas noções fica claro que para o budismo o eu, como todos os fenômenos, não tem substância, é uma combinação de vários elementos e tem uma natureza condicionada, sem essência e mutável. Trata-se de uma experiência em movimento, não uma entidade independente. Resulta da articulação de cinco elementos, os chamados cinco skandhas (amontoado, pilha, coleção): a forma (materialidade física do corpo), as sensações (causadas pelo contato com o mundo, ao qual não somos neutros), as percepções (discriminações decorrentes desses contatos), as formações mentais (disposições, conceituações, tendências da ação) e a consciência. Os skandhas são fluxos da existência que, uma vez articulados, produzem a experiência de si. Embora descritos separadamente, eles são na verdade um mesmo movimento, ou partes de um processo em curso. O eu, portanto, é vazio de essência própria. Aquilo que percebemos e veiculamos como personalidade, idiossincrasias, identidade e compulsões são na realidade efeitos da combinação desses agregados. É por causa de nossa ignorância (avídya, não-visão) sobre a natureza condicionada dos fenômenos que somos levados a atribuir solidez e permanência ao eu e a suas propriedades.
“Estudar o budismo é estudar o eu; estudar o eu é esquecer-se do eu; esquecer-se do eu é reconciliar-se com todos os seres.” A frase atribuída ao grande mestre zen do século XIII Dogen condensa muitas noções centrais do budismo: seu núcleo e ponto de partida é a análise da experiência (e seu aspecto mais sensível e fundamental é a experiência de si); ao compreender sua natureza não-substancial e transitória, abrimos caminho para uma transformação da experiência, na qual já não nos submetemos cegamente às causas e aos efeitos que nos atingem incessantemente; conquistamos um grau maior de liberdade em relação aos nossos próprios condicionamentos; por fim, ao reconhecermos a interligação e interdependência de todos os fenômenos e de todos os seres, podemos nos posicionar de modo diferente em relação a eles, sendo mais livres, mais criativos e mais compassivos. Assim, conhecimento, prática e posicionamento ético se imbricam naturalmente.
FICÇÃO DO EU
Para Freud, o eu é uma ficção necessária à ação. Em todas as suas versões, a psicanálise se baseia no desenvolvimento complexo dessa idéia. Na descrição freudiana, o ser humano é um animal que nasce prematuramente, em condição de dependência absoluta, desde cedo busca o amparo e a proteção necessários à sobrevivência, e é instado a responder a solicitações e injunções dos meios físico, biológico e cultural. O complexo processo de constituição de um eu capaz de se reconhecer como sujeito frente aos outros começa com os primeiros movimentos e ações do bebê, passa pelo mergulho da criança no universo das significações propiciadas pelo equipamento lingüístico e pela conquista de um lugar na cadeia de gerações e na divisão dos sexos e segue por toda a vida, ao longo da interminável trajetória de construção de narrativas e identificações com as quais o indivíduo dota de sentido sua existência pessoal.
A experiência de si, aos olhos da teoria freudiana, é o resultado complexo, mutante e inacabado de um equilíbrio instável entre um enorme conjunto de fatores, que vão das exigências conflitantes de instâncias internas (id, ego, superego), às difíceis mediações entre desejos inconscientes e normas sociais internalizadas, mecanismos de defesa contra a angústia, necessidades psicossomáticas e demandas produzidas culturalmente, e assim por diante. O eu da psicanálise é, portanto, fragmentado, governado por forças que não domina, uma montagem mais ou menos bem-sucedida que leva o sujeito a agir no mundo, buscar satisfações e lidar de alguma maneira com o desamparo, a angústia e o desejo. Ele é, para usar uma expressão do filósofo Daniel Dennett, um centro de gravidade: não tem substância, tudo nele deriva dos efeitos produzidos pelas interações com os outros aspectos significativos de sua história, com o ambiente natural e simbólico que o circunda, com as expectativas e desejos projetados sobre ele (mesmo antes que tivesse nascido, no desejo inconsciente dos pais). O eu é uma imagem (daquilo que vejo refletido no olhar do outro, daquilo que suponho poder causar no outro) e uma trajetória (de identificações, de configurações sintomáticas, de posicionamentos subjetivos frente aos outros) que resultam dessas interações e permitem ao sujeito projetar-se em um futuro.
Freud definiu a psicanálise como uma teoria do funcionamento subjetivo, um método de investigação da vida mental e uma forma de tratamento do sofrimento psíquico. Apesar da origem médica, ele sempre recusou a subordinação de sua criação às expectativas curativas da psicologia e da medicina. Em sua abordagem da experiência subjetiva não há lugar para uma normalidade cuja restituição seria o objetivo da prática clínica. Como somos em verdade montagens, arranjos sintomáticos mais ou menos bem-sucedidos, o que o dispositivo analítico pretende não é a simples redução ou eliminação de sintomas ou do sofrimento (isto se consegue de muitas outras maneiras, de sugestão a medicamentos), mas uma ampliação da normatividade do sujeito, ou seja, de sua capacidade de se reposicionar subjetivamente, de ser mais espontâneo e criativo na vida de que desfruta, não se fixando excessivamente a imagens do eu, respostas sintomáticas ou estereotipias da ação que limitam e estreitam seu horizonte existencial.
Este reposicionamento é alcançado na medida em que o dispositivo analítico oferece ao sujeito as condições para que ele se reconheça como autor de sua própria existência. Ao implicar-se no próprio sintoma que aparecia antes como um alien estranho e desconhecido a assombrá-lo, o sujeito amplia a percepção dos vários elementos e fatores que incidiram sobre seu percurso pessoal, sobre o papel de suas escolhas (conscientes ou inconscientes) na construção do eu que ele é, da vida que experimenta e do mundo que habita. Assim ele se habilita ao desprendimento de si, a ocupar sua existência com gestos mais espontâneos e menos autocentrados, mais criativos e menos auto-indulgentes. Deste ângulo, portanto, percebe-se que a psicanálise e o budismo se afirmam, por caminhos distintos, como saberes que visam a transformação da existência e como práticas que buscam a liberdade.
INTERESSE RENOVADO
Budismo e psicanálise ocupam posições diferentes no cenário contemporâneo. O primeiro é a religião ou prática espiritual que mais se expande no mundo, impulsionada por diversos fatores: a diáspora tibetana que espalhou mestres treinados por todo o Ocidente, o ativismo cosmopolita do Dalai Lama (a despeito do cerco promovido por autoridades chinesas), o apelo que as práticas corporais das espiritualidades asiáticas têm para culturas que privilegiam a atenção e o cuidado com o corpo, a posição não proselitista e não dogmática adotada pelos praticantes, a crítica às pretensões racionalistas da cultura ocidental etc.
Nas últimas décadas o budismo tem sido também alvo do interesse de certos ramos de ponta da ciência, em especial do campo das neurociências, interessadas em explorar a enorme riqueza de observações empíricas que sustentam os conceitos budistas sobre a mente. Porém, de um modo que não chega a ser surpreendente, o sucesso acarreta também embaraços: em muitos contextos a prática budista virou moda. É chique deixar-se fotografar em posição de lótus e exibir em casa estátuas ou imagens do seu repertório iconográfico. Há 25 séculos a serviço do desapego aos objetos e ao desprendimento de si, o budismo se vê freqüentemente transformado em técnica de otimização do desempenho com vistas ao sucesso individual. O filósofo Slavoj Zizek chegou a afirmar, provocativamente, que o budismo (do mesmo modo que outras espiritualidades orientais como o taoísmo) havia se tornado a ideologia ideal para os tempos neoliberais. De qualquer modo, ele vive hoje um processo de intensa difusão na cultura ocidental, tem sido menos visto como fenômeno asiático exótico e vem dialogando cada vez mais tanto com religiões ocidentais quanto com as ciências, em especial as neurociências.
A psicanálise, por sua vez, vive um momento de transição. Passada a década de 90, em que sofreu todo tipo de vaticínio sobre sua morte por obsolescência teórica e inutilidade prática, recrudesce o interesse por ela, tanto do lado das neurociências como da psicologia do desenvolvimento e as ciências da cognição. Abrem-se para a psicanálise territórios que haviam permanecido praticamente fechados durante quase todo o século passado, especialmente nos países do Leste europeu e na China. Por outro lado, um reposicionamento de seu lugar vem ocorrendo na sociedade ocidental. Se na cultura psicológica e da sentimentalidade ela ocupou papel de destaque na clínica mental e no campo social, na atual cultura somática e das sensações esse lugar está sendo disputado por outros dispositivos terapêuticos e teorias centrados no corpo e na capacidade de controlar, cognitiva ou quimicamente, disfunções e transtornos o que possui um claro efeito dessubjetivante, na medida em que tendem a desimplicar o sujeito de sua experiência. Hoje a psicanálise tornou-se um dos poucos campos nos quais os indivíduos ainda são interpelados não como meros seres biológicos ou agentes sociais, mas na condição de sujeitos. Por isso ela anda, por assim dizer, na contramão da cultura hegemônica. O que para uns pode parecer uma perda – o fascínio social de outrora se reduziu –, para outros é uma vantagem: a psicanálise retoma cada vez mais o caminho da investigação clínica, fonte mais fecunda de toda sua originalidade e interesse.
O diálogo entre budismo e psicanálise jamais foi tão intenso. Nunca houve tantas oportunidades para exploração de suas afinidades e diferenças. E isso interessa não só a seus praticantes, mas a todos os que se voltam à ampliação da caixa de ferramentas (como diria Wittgenstein) para lidar com a experiência de si e suas vicissitudes.
TRADIÇÕES BUDISTASÚnica remanescente das primeiras escolas, o budismo Theravada (“caminho dos anciãos”) predomina há séculos no Sri Lanka, Indonésia, Malásia e Sudeste asiático. Suas principais características são a ênfase na vida monástica, na disciplina individual em direção à iluminação e na concepção da natureza humana como obstáculo a ser ultrapassado.
O budismo Mahayana (“grande veículo”) originou-se na Índia e de lá se deslocou, a partir do século II, para a China, onde encontrou o taoís-mo. Daí disseminou-se para o leste da Ásia, tendo muita força no Japão, Vietnã e Coréia do Sul. Em contraste com o ascetismo doutrinário theravada, a tradição mahayana tem uma perspectiva mais universalista e inclusiva. Sua ênfase não está na busca individual pela iluminação, mas no esforço do bodhisatva de se dedicar ao objetivo de iluminação de todos os seres. Outra diferença é a concepção mahayana segundo a qual todos os seres têm potencial para atingir a iluminação. A natureza humana não é vista como obstáculo a ser vencido: há uma “natureza búdica iluminada” na humanidade, que precisa, por assim dizer, ser reencontrada por meio do rompimento do véu de aparência dos fenômenos, e não propriamente alcançada pelo esforço de superação. A escola mahayana mais conhecida é o Zen, cujas características essenciais são a recusa violenta a intelectualizações e estratégias gradativas de caminho espiritual. Suas práticas fundamentais são o zazen (meditação contemplativa que visa colocar o praticante em contato direto com a realidade), o uso (na vertente Rinzai) do koans, na busca do satori (realização súbita da iluminação).
O budismo Vajrayana (“veículo do diamante”), ou budismo tântrico, é uma extensão do Mahayana e se caracteriza pela adoção de certas técnicas e práticas próprias. Está presente no Tibete, Nepal, Butão, Mongólia e, com a diáspora provocada pela invasão do Tibete, tem seu centro em Dharamsala, norte da Índia, sede do governo no exílio, de onde o Dalai-Lama projeta sua presença no mundo. Por se caracterizar por um profundo esoterismo, o budismo Vaj-rayana é cheio de símbolos, imagens e práticas devocionais, além de ensinamentos secretos, passados direta e oralmente pelo mestre ao discípulo. Em contraste com o Zen, algumas de suas práticas são explicitamente voltadas para o exercício ou cultivo da compaixão como a metta bhavana, uma forma de meditação dirigida ao abandono de sentimentos de apego e aversão e o desenvolvimento da amorosidade ou da fraternidade.
Com a difusão no Ocidente, o budismo tem dialogado com tradições filosóficas locais, resultando na construção de versões contemporâneas e ocidentais, como o budismo agnóstico defendido por Stephen Batchelor, que propõe uma descrição dos ensinamentos budistas de corte mais secular e existencialista que religioso.
ESCOLAS PSICANALÍTICAS
Os três maiores protagonistas no cenário psicanalítico pós-freudiano são Melanie Klein, Donald Winnicott e Jacques Lacan. Cada um desenvolveu o legado freudiano a seu modo, acrescentando contribuições originais na teoria e na clínica. Klein ampliou o alcance da psicanálise ao pesquisar a vida mental dos bebês e propor inovações no tratamento de crianças (como o uso da brincadeira como forma de atingir complexos inconscientes), e ao fundar a análise das relações objetais, centro de sua investigação teórico-clínica.
Winnicott, que inicialmente se alinhava com Klein, aos poucos se desprendeu de sua influência e enfatizou a importância dos primórdios da vida psíquica infantil, uma fase na qual as relações de objeto ainda estão por se formar, decisiva no processo de amadurecimento pessoal. Essa etapa seria anterior às relações ditadas pela lógica pulsional, e seu motor não seria propriamente a sexualidade (uma tese, portanto, que o distingue de Freud), mas outra força econômica do psiquismo: a agressividade primária, mais próxima da vitalidade dos tecidos que das tramas conflitivas interpessoais, que só emergem posteriormente. Leitor e admirador de Charles Darwin, Winnicott construiu uma psicanálise de forte matiz naturalista, em que noções como as de desenvolvimento, maturação e psique-soma são centrais. Tanto na teoria como na prática, sua ênfase está na idéia de continuidade na vida psíquica, em que os traumas são situações nas quais essa continuidade é ameaçada. Sua obra tem sido alvo de interesse renovado nos últimos anos.
Lacan voltou-se para a lingüística de Saussure e para a antropologia de Lévi-Strauss para produzir uma versão estruturalista da psicanálise, com um grande número de inovações teóricas (a tríade real, simbólico e imaginário; o objeto a; a noção de lalíngua etc.) e um remanejamento profundo do dispositivo clínico (o tempo lógico, a lógica do significante). Na perspectiva lacaniana, o que se põe como central na transformação da vida subjetiva é a descontinuidade, a precipitação, o salto – situações traumáticas podem ser constitutivas e não ameaçadoras. Recentemente vem sendo valorizada a última parte de sua obra, em que o estruturalismo e a importância concedida à linguagem cederam lugar a uma reflexão sobre o campo do pré-reflexivo ou do não-discursivo na vida subjetiva.
Fonte: Revista Mente e Cérebro
Benilton Bezerra Jr. é psiquiatra, psicanalista e professor do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
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