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domingo, 3 de agosto de 2014

A PRIMEIRA IMPRESSÃO, NÃO PODE SER SEMPRE A QUE FICA

Em minhas andanças de viagens de ônibus, me deparei com um fato inusitado, embarcando na rodoviária de Araraquara com destino a São Paulo tomei o assento número 2, que constava no bilhete da passagem destinada a passageiros preferênciais, pois tenho o direito adquirido por portar mais de 60 anos, vim nesse coletivo até a cidade de São Carlos, na poltrona ao lado de número 1, não tinha passageiro. Desci na rodoviária de São Carlos para ir ao sanitário, e deixei uma jaqueta no banco, quando voltei tinha um senhor da melhor idade sentado na poltrona 2, pelos nossos condicionamentos já começamos a julgar, e achei uma certa ousadia desse senhor, pois a passagem dele deveria ser a de número 1. Pois bem, não parou por aí, esse senhor além de sentar em poltrona errada ligou seu celular, e colocou seu braço esquerdo tomando todo o apoio que divide os assentos, e ainda ultrapassou para o meu lado, logo pensei: que sujeito folgado. Tentei me acalmar, e tirei uma soneca até o posto próximo de Limeira onde ele faz uma parada de 20 minutos. Desci novamente, fui até o sanitário, e fiquei aguardando próximo do ônibus o retorno do motorista para seguir viagem. Eis que nesse interim, esse senhor se aproximou de mim, e perguntou se o ônibus em frente era o que estávamos viajando, confirmei, e ele todo sorridente me ofereceu biscoitos de polvilho, e começou a conversar. Compensando sua desatenção em relação ao ônibus, ele tinha percebido que uma mulher e seus dois filhos que tinha descido estava subindo em coletivo errado, e comentou: que um dos meninos já tinha observado isso. Então ele começou a falar sobre sua vida, dizendo que era vigia de um estacionamento de carros, que era pouco alfabetizado, que tinha sofrido um atropelamento de carro quando voltava de bicicleta do trabalho, que no momento do acidente não tinha sentido nada, porém depois começou a sentir dores, e acabou sendo hospitalizado, teve que usar muletas durante algum tempo, e atualmente estava quase que todo recuperado. Disse-me também que estava voltando da cidade de São Carlos, onde tinha ido visitar uma irmã. Durante seus relatos pude sentir, que tinha feito uma pré opinião totalmente errada sobre sua pessoa. Diante de um pensamento da grande maioria da população brasileira, que entende que ser normal é sempre levar vantagem em tudo o que fazemos, percebi que segundo esse raciocínio invertido, esse senhor não era normal, e me fêz lembrar o comportamento do personagem do filme "Forrest Gump", e eu vou além disso pelo que pude aquilatar, esse senhor de 66 anos é muito mais puro e ingênuo do que o do filme. Pelo seu relato, me disse que era casado com sua ex mulher, uma professora de escola pública, e com a qual teve 3 filhos, porém o caçula pelo que veio a descobrir foi fruto da traição de sua mulher com seu próprio irmão, mesmo sabendo que esse filho não era de seu sangue lhe contou o ocorrido, e afirmou que o amava assim mesmo, e o filho também lhe disse, que o considerava como seu verdadeiro pai. Ainda afirmou, que sua ex mulher mora na mesma casa que ele construiu, porém sem mais a união de corpos, mas que ainda compra alimentos, gaz, e tudo o mais que for necessário. Relatou que tem consulta com psicólogo, para poder superar essa situação. Contou também, que esse irmão inescrupuloso manteve relações com outra cunhada, e foi pai de uma menina com ela, o que levou seu outro irmão a cometer suicídio. Disse que também pensou em suicídio, e amaldiçoou o irmão traidor, porém hoje o perdoou, mas não quer mais contato com ele. Quando chegamos na rodoviária de São Paulo disse: - Pocha, a gente nunca mais vai se ver, e eu gostei tanto de conversar com o senhor, poderíamos marcar um dia para comermos uma feijoada. Ao que lhe respondi que não comia carne, e ele com muita inocência retrucou: - Mas como a gente faz então?, o que o senhor come? O aconselhei a não comer mais carne, mas se não conseguisse, a preferir carne branca ao invés da vermelha. E ele respondeu: - Eu comi carne a vida inteira, o que faço agora?. Eu não quero morrer entupido por colesterol igual a minha irmã. Passou seu número de celular para mim. E disse: O senhor vai ligar mesmo? Respondi que sim. Tanta violência que vemos ser noticiada na mídia, geralmente tem início no próprio lar, uns reagem de forma passiva, e outros se revoltam e tomam atitudes mais violentas. JOSÉ BENTO

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