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domingo, 16 de março de 2014

AO GINKGO MEU GRANDE AMICÃO








Um dia, estando eu na casa do meu irmão Luiz Carlos, na cidade de Araraquara, ao entrar na sala fui acometido de susto e medo ao deparar com uma cachorra Pit Bull deitada no sofá, então falei ao meu sobrinho Adriano, que era seu dono, segure ela;
 _ Ao que ele retrucou: não tenha medo tio, ela não vai lhe atacar, nem tampouco morder.
 Perguntei o nome dela;
 _ E ele me disse que ela atendia pelo nome de Mel.
 Tio pode sentar ao lado dela, fique tranquilo.
 _ Com um enorme receio sentei ao lado do animal; pois ficamos condicionados com notícias da mídia, e das pessoas em geral da ferocidade e violência dessa raça de cachorro.
 Comecei a fazer carinho nela, no que fui correspondido. Percebendo que se tratava de um animal dócil e meiga, pedi ao Adriano, que se um dia ela cruzasse, e parisse filhotes, eu queria um.
 Após algum tempo fui atendido no meu pedido, e um belo filhote de cor predominante branca, e algumas manchas douradas fui presenteado.
 Diga-se de passagem, foi um dos melhores presentes que recebi em toda minha vida.
 Mesmo contra a vontade de minha esposa Izabel, e de minha filha Nuara trouxe ele; vim sentado no banco traseiro do carro, e ele em uma caixa de papelão no meio dos meus pés.
 Ele tinha um olhar tão cativante, que já tinha me conquistado.
 Como tenho facilidade de dar nomes aos animais, coloquei-lhe o nome de Ginkgo, pois como essa raça é muito ágil, e patrulha todos os lugares em que vive, fiz uma analogia com a planta Ginkgo Biloba, que tem a função de aumentar a nossa circulação.
 Nuara mesmo não querendo que eu o trouxesse, lhe deu o nome de Aquiles, ficando ele então com um triplo nome, porque muitas vezes com um sentido muito carinhoso eu o chamava de Meninão.
 Então ele ficou sendo chamado por eu de Ginkgo e Meninão, e pela minha família e parentes de Aquiles.
 Já tivemos vários cachorros em nossa casa, mas esse foi o que mais me cativou. Por ele ter um temperamento semelhante ao meu filho Raoni, e de ser forte e bondoso.
 Um dia Raoni, saindo a passear com ele, puxou tanto a caminhada, que ele entrou no estado de exaustão, e teve que ser trazido no colo do meu filho.
 Outra vez, Raoni voltando a pé pela estrada da Aldeia de Carapicuíba, em um determinado trecho foi abordado por dois menores assaltantes, que queriam roubar sua mochila, celular, tênis e outros pertences, ele reagiu ao assalto aplicando uma surra em um dos meliantes, e o outro com medo saiu correndo. Mesmo não conformado em não lhe levarem nada, chegou até nossa casa, colocou a coleira no Ginkgo, e foi atrás dos assaltantes, ainda bem que graças a Deus, não se confrontaram mais.
 Em nossas caminhadas, ( agora me arrependo de não terem sido com mais frequência ) quando eu, ou o Raoni pegávamos a coleira sua alegria era enorme, pulava tanto de contentamento e felicidade, e quando voltávamos ele bebia água, e ficava estatelado no chão.
 Inspirava tanta confiança na gente, por sua agilidade, e porte musculoso. Muitas pessoas que viam a gente caminhando sempre teciam elogios a ele, outras ao cruzarem conosco atravessavam de calçada com medo. Um dia um cachorrinho vira lata querendo demonstrar domínio de território começou a latir muito, porém quando estávamos chegando perto dele, pulou rapidinho para dentro de um bueiro.
 Outra vez passeando com Raoni, eis que de repente escaparam de uma residência dois Rottweilers, que vieram ao seu encontro, rapidinho Raoni o liberou da corda, e ele não se intimidou, enfrentando os dois adversários, um deles saiu bem machucado, porém o Ginkgo só levou alguns arranhões.
 Nos 10 anos e 4 meses, que foram seu tempo de vida só vi atitudes violentas nele, essa do ataque dos Rottweilers, outra quando seu Emiliano, ( um funcionário que trabalhou algum tempo na minha empresa ) trouxe uma fêmea da mesma raça dele para cruzar, os dois não se aceitaram, e tiveram alguma agressão, e uma última, quando na casa do senhor Emiliano com outra cachorra no cio, ao ver um pequeno cachorrinho concorrente querendo perpetuar a espécie, ele simplesmente deu uma patada no pequeno animal, que voou longe caindo já morto no chão.
 Em outra ocasião, arrumei uma cachorra Pit Bull no cio para cruzarem, e eis que depois da penetração, quando cada um fica em sentido oposto ao outro, as patas traseiras do Ginkgo ficaram cruzadas, a cachorra começou a puxar, e ele começou a ficar em uma atitude desconfortável; eu fiquei até com um certo receio em descruzar as patas dele, porém fiz o procedimento, e ele não teve nenhuma atitude de violência.
 Quando era alimentado, podíamos mexer no comedouro, e ele nunca teve atitude de rosnar, querer morder, ou outra qualquer atitude de violência.
 Mesmo sendo carnívoro, ele adorava frutas ( banana, laranja, mamão, manga, melancia ), sempre teve o costume até de mastigar os alimentos, e não simplesmente engolir, ele tinha algo de especial.
 Marcela minha sobrinha, em tenra idade colocava a mão na boca dele, e ele jamais se mostrou agressivo.
 Também tinha bom relacionamento com nossa gata, com o Todd um cachorro Labrador do nosso vizinho.
 Até trabalho extra ele prestou; quando a casa do meu sobrinho André foi assaltada, e temeroso pelo retorno dos ladrões emprestamos temporariamente o Ginkgo, que a contento a proteção da casa ele executou, recebendo menção honrosa pelos serviços prestados.
 Sempre quando eu chegava do trabalho ele estava me esperando, muitos carinhos e brincadeiras trocamos, uma que ele gostava muito era:
 _ Ele se encostava no portão.
 _ Eu o acarinhava, e dizia: correndo já
 _ Ele dava um tiro no corredor em que ficava, aproximadamente 12 metros, virava rapidinho no final dele, e retornava novamente para ser acarinhado. Que saudades disso!
 Infelizmente no dia 19 de fevereiro de 2.014, para tristeza geral de toda minha família ele veio a falecer, vítima de um tumor ao lado do pênis, segundo uma veterinária amiga, essa doença de nome hemargiane, consequência de ele ter predominância de cor clara, com pouca melanina, e também da ação de rações transgênicas.
 Segundo estudo que tive de psicanálise integral, o comportamento dos animais de violência, ou bondade são características de seus donos, como o reino hominal está no topo da pirâmide, ele passa seu comportamento para o reino animal, que fica abaixo dele.
 O afeto é uma virtude essencial ao ser vivo, principalmente o humano, quando nos privamos de sermos afetuosos quebramos nosso estado de homeostase, estado no qual todos os nossos hormônios são fabricados de uma forma equilibrada, saindo da homeostase esses hormônios são fabricados de uma forma desordenada, diminuindo assim nosso sistema imunológico, e escancarando nosso corpo para a entrada de todos os elementos patológicos ( bacilos, bactérias, fungos, vírus, e todos os causadores de doenças ).

 O sistema de vida atual, com tantas pressões externas de consumismo, de tributação extrema por parte dos governos está levando o ser humano a ter que trabalhar muito mais para cumprir suas obrigações, e não sua ação espontânea de doação; dessa forma casais, pais e filhos, parentes, amigos se afastam das suas características originais de amor e afetividade, diminuindo, ou até mesmo excluindo essas virtudes tão fundamentais a sobre vivência humana.
 Os animais, principalmente os cachorros, amenizam e muito, essa falta de afeto entre pessoas viúvas, casais que já educaram seus filhos e vivem sozinhos, pessoas que mesmo convivendo com familiares se sentem solitários, casais que não conseguem por motivos diversos gerar um filho.
 Os cães, são sempre solícitos em dar afeto, sempre abanando o rabo, principalmente os que não tiveram o infortúnio de serem mutilados, pelo complicado humano em achar que vai melhorar a estética, e tantas outras mazelas.
 Eles não guardam mágoas, rancores, vinganças, não tem problemas de TPM, não fazem descriminação racial, econômica, etc e tal.
 Por esses motivos todos, senti e muito a morte do Ginkgo, um aperto no peito, ( pude até entender minha cunhada Marlene no pronto socorro, quando me disse após saber da morte do seu filho; nosso inesquecível Fábio, que seu peito doía muito.
 Pude entender também, quando a Cláudia esposa do Fábio disse: que não sabia que gostava tanto dele.
 Pois só quando perdemos, é que realmente começamos a dar valor no que tínhamos.
 É desse amor e afeto verdadeiro, universal, que os animais ditos irracionais, tão bem exercitam e colocam em prática, que nós precisamos para ter um mundo melhor.
 Passeatas e reivindicações pelos direitos universais, contra a corrupção, são louváveis por parte do ser humano, porém só a prática constante do afeto e amor, é que podemos nos tornar seres humanos melhores, e podemos encarar a qualquer um que se aproxime da gente, como um verdadeiro irmão.
 Minha homenagem ao grande e inesquecível Ginkgo, que teve a capacidade de ser um ícone de ligação, entre famílias e gerações.

 " Não existe nada tão mau, selvagem e cruel na natureza, quanto os homens normais "
                                                                                                                             Hermann Hesse

 José Bento


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