"BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO"?: DITOS POPULARESCOS QUE REVELAM A DOENÇA DA IGNORÂNCIA E DO AUTOCENTRAMENTO.
NOS ÚLTIMOS DIAS, FOI DIVULGADO UM VÍDEO NA INTERNET DE UM ASSALTO ONDE UM LADRÃO ROUBAVA UMA MOTO DE UMA PESSOA, UM POLICIAL VIU A CENA, TENTOU RENDER O BANDIDO PORÉM FOI NECESSÁRIO ATIRAR NELE PARA DETÊ-LO. A AÇÃO DO POLICIAL FOI COERENTE E NECESSÁRIA. PORÉM, COMO MUITAS VEZES ACONTECE, AS REDES SOCIAIS ”FERVEM” E POR TODOS OS LADOS, SERES DOMINADOS PELO ÓDIO E PELO AUTOCENTRAMENTO DESPEJAM FRASES DE EFEITOS DE TELENOVELAS COMO ”DEVERIA TER MATADO”. ”BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO!’ OU ”VAGABUNDO NÃO MERECE VIVER”. MUITAS DESTAS PESSOAS SE DIZEM ”GENTE DE BEM” ENQUANTO O OUTRO É O ”MAL”, A FAMOSA DUALIDADE IRREDUTÍVEL. PORÉM A ”PESSOA DE BEM” ESTA DESEJANDO A MORTE DE OUTRO SER, SERIA ISSO CERTO? CONVIDO A TODOS A LEREM O ENSINAMENTO ABAIXO E REFLETIR SOBRE:
Não somos crianças inocentes vitimadas por um grande mundo malvado. Se nosso mundo é grande e mau, nós o fizemos dessa maneira.Nossa ignorância é não ver que nós somos o outro. A violência não é um objeto permanente, imutável e fixo. É um estado da mente, uma expressão da ignorância. Não tem mais solidez que uma nuvem. Esse tipo de pensamento de homem das cavernas presente tem que mudar se não simplesmente só aumenta o que já ocorre, ciclos e ciclos de violência, ódio gerando odio e morte gerando morte, gente se achando superior a outras e justificando derramamento de sangue.
Monstros não existem, assim como não existem seres humanos que são santos e plenamente perfeitos. Quando examinamos um indivíduo que caiu nas garras do ódio, da raiva e da agressividade, e está à mercê da violência e crueza desses excessos, devemos vê-lo mais como um doente do que como um inimigo. Alguém que deve ser curado e não punido. Se um paciente ensandecido ataca seu médico, este deve controla-lo e dar tudo de si para curá-lo, sem se deixar levar pelo sentimento de ódio recíproco. Não esperamos que um médico comece a bater em seus pacientes. É importante, assim, não confundir a repulsa e o desgosto diante de um ato abominável com a condenação irrevogável e perpétua de uma pessoa. É claro que o ato se realiza sozinho, mas apesar de essa pessoa agora estar pensando e se comportando de uma maneira extremamente nociva, mesmo o mais cruel dos torturadores não nasceu cruel, e quem sabe o que ele pode se tornar daqui a vinte anos? Quem pode afirmar com certeza que ele não mudará? Um amigo falou-me sobre um presidiário que estava detido em uma prisão americana para criminosos reincidentes. Era um daqueles que matam os próprios colegas dentro da cela. Esse detento certo dia decidiu participar de algumas sessões de meditação oferecidas no presídio, para passar ao tempo. Eis o seu testemunho: “Um dia, senti como se um muro desabasse dentro de mim. Eu me dei conta de que até aquele momento nunca tinha pensado ou me comportado de outro modo senão recorrendo à violência, como se estivesse louco. Bruscamente compreendi a desumanidade das minhas ações e comecei a olhar para o mundo e para as outras pessoas sob uma luz totalmente diferente”.
Durante um ano, ele lutou para agir em um plano mais altruísta e encorajou seus pares a renunciar à violência. Depois o assassinaram, com um caco de vidro, em um banheiro da prisão. Vingança por um crime passado. Transformações como essa só são raras porque em geral não oferecemos aos presidiários as condições que as tornariam possíveis. Assim como um indivíduo pode tornar-se vítima do ódio, uma sociedade inteira também pode. No entanto, é possível remover o ódio da mente das pessoas. Podemos poluir um riacho, mas também podemos purificá-lo, tornando sua água novamente potável. Sem a possibilidade de transformação interior, seríamos pegos por um desespero autodefensivo, privados de qualquer esperança. Segundo um ditado budista: “A única coisa boa do mal é que ele pode ser purificado.” Os seres humanos podem mudar e, se alguém mudou realmente, o perdão não é uma indulgência para com os seus atos passados, mas o reconhecimento daquilo em que ele se transformou. O perdão está intimamente ligado à possibilidade de transformação humana.
Há uma crença amplamente difundida de que responder ao mal com violência é uma reação “humana” ditada pelo sofrimento e pela necessidade de “justiça”. Mas a humanidade genuína não deveria evitar reagir com ódio? Após o ataque a bomba que fez centenas de vítimas em Oklahoma City, em 1995, perguntaram ao pai de uma garotinha de três anos que morreu no atentado se ele gostaria que o principal autor do ataque, Timothy McVeigh, fosse executado. Ele respondeu com simplicidade: “Outra morte não vai cessar a minha dor.” Uma atitude assim não tem nada a ver com fraqueza, com covardia ou com qualquer tipo de transigência. É possível ter uma sensibilidade aguda ao caráter intolerável de uma situação e à necessidade de repará-la, sem no entanto ser movido pelo ódio. Podemos neutralizar uma pessoa ruim e perigosa por todos os meios necessários (incluindo aqui a violência se nenhum outro meio é possível), sem perder a vista que ela não é mais do que uma vítima dos seus próprios impulsos. O que nós próprios seremos se não conseguirmos evitar o ódio? Como disse Gandhi: “Se praticarmos o olho por olho, dente por dente, logo o mundo inteiro estará cego e desdentado”. Em vez de aplicar a lei da retaliação, não seria melhor aliviar a sua mente do ressentimento que a corrói? Mesmo sendo raras essas mudanças radicais de rumo – só um dos indicados em Nüremberg, Albert Speer, arrependeu-se das suas ações – não há razão para não termos esperança de que aconteçam. Conheci, na Índia, na província de Bihar, um homem que cometeu um assassinato sórdido na sua juventude e que, liberado da prisão depois de dez anos, se consagrou inteiramente a cuidar de leprosos. Não somos crianças inocentes vitimadas por um grande mundo malvado. Se nosso mundo é grande e mau, nós o fizemos dessa maneira. Isso é o que o Buda ensinou. O “outro” é um bicho-papão infantil, a projeção de nossos próprios medos em um objeto assustador de nossa imaginação, que nos aterroriza. Nossa ignorância é não ver que nós somos o outro. Não podemos nos permitir confundir inocência com essa ignorância. O ódio amplifica os defeitos daqueles que são seu objeto e ignora suas qualidades. Como observa Aaron Beck: “Percepções e pensamentos distorcidos se estabelecem na mente, em resposta a uma ameaça, seja ela real ou imaginária. Esse enquadramento rígido, a prisão da mente, é responsável por grande parte do ódio e da violência que nos assola”.
A mente, obcecada pela animosidade e pelo ressentimento, fecha-se na ilusão e persuade-se de que a fonte da sua insatisfação reside fora dela. Ao pensarmos que estamos sendo tratados com injustiça ou ameaçados, concentramo-nos apenas nos aspectos negativos de uma pessoa ou de um grupo. Não conseguimos ver as pessoas e os eventos no contexto de uma rede muito mais ampla de causas e efeitos inter-relacionados. Ao formarmos a imagem do “inimigo” como alguém vil ou desprezível, generalizamos até incluir a pessoa ou o grupo inteiro. Solidificamos os atributos “maus” ou “repugnantes” que enxergamos naquele momento como sendo traços permanentes e intrínsecos da pessoa e nos afastamos da possibilidade de reavaliar a situação. Temos, assim, justificativa para expressar a nossa animosidade e nos vemos no direito de retaliar.
A HIPOCRISIA TAMBÉM PODE FAZER COM QUE SINTAMOS A NECESSIDADE DE “LIMPAR” NOSSO ENTORNO, A NOSSA SOCIEDADE, OU O MUNDO EM GERAL, DESSE “MAL”. DAÍ VEM A DISCRIMINAÇÃO, A PERSEGUIÇÃO, O GENOCÍDIO, A RETALIAÇÃO CEGA E TAMBÉM A PENA DE MORTE – A SUPREMA RETALIAÇÃO LEGAL. CHEGANDO A ESSE PONTO, OBSCURECEU-SE A BENEVOLÊNCIA BÁSICA QUE FAZ COM QUE APRECIEMOS A ASPIRAÇÃO, COMUM A TODOS, DE EVITAR O SOFRIMENTO E OBTER A FELICIDADE.
O único alvo ou objeto que continua sendo possível para o ódio é o próprio ódio. Odiar o ódio: este é o inimigo pérfido, obstinado e inflexível que incansavelmente transtorna e destrói vidas. Por mais apropriada que a paciência sem fraqueza possa ser diante daqueles que consideramos nossos inimigos, é totalmente inadequado ser paciente com o nosso próprio ódio, independentemente das circunstâncias. Como disse Khyentse Rimpoche: “É hora de redirecionar o ódio para longe dos seus alvos habituais, os nossos assim chamados inimigos, e voltá-lo contra ele mesmo. É o ódio o seu inimigo verdadeiro e a ele que você deve destruir” De nada adianta tentar reprimi-lo ou revertê-lo, devemos ir às suas raízes e arrancá-las de uma vez. Vejamos mais uma vez as palavras de Etty Hillesum: “Eles falam de extermínio. É melhor exterminar o mal dentro de um homem do que exterminar o próprio homem”. Assim, ela confirma, doze séculos mais tarde, as palavras do poeta budista indiano Shantideva: “Quantos malfeitores matarei? O número deles é infinito como espaço. Mas se eu matar o espírito do ódio, todos os meus inimigos serão mortos de uma só vez.”
NÃO HÁ OUTRO REMÉDIO SENÃO A TOMADA DE CONSCIÊNCIA PESSOAL, A TRANSFORMAÇÃO INTERIOR E A PERSEVERANÇA. O MAL É UM ESTADO PATOLÓGICO. UMA SOCIEDADE DOENTIA, QUE TENHA SE TRANSFORMADO EM VÍTIMA DA FÚRIA CEGA CONTRA OUTRA PARTE DA HUMANIDADE, MAS NÃO PASSA DE UM GRUPO DE INDIVÍDUOS ALIENADOS PELA IGNORÂNCIA E PELO ÓDIO. MAS QUANDO UM NÚMERO SUFICIENTE DE INDIVÍDUOS ATINGE UMA TRANSFORMAÇÃO ALTRUÍSTA, A SOCIEDADE PODE SE DESENVOLVER NA DIREÇÃO DE UMA ATITUDE COLETIVA MAIS HUMANA, INTEGRANDO ÀS SUAS LEIS O REPÚDIO AO ÓDIO E À VINGANÇA, ABOLINDO A PENA DE MORTE, PROMULGANDO O RESPEITO PELOS DIREITOS HUMANOS E ESTIMULANDO A RESPONSABILIDADE UNIVERSAL. MAS É PRECISO NÃO ESQUECER QUE NÃO HAVERÁ DESARMAMENTO EXTERIOR SEM DESARMAMENTO INTERIOR. CADA UM DE NÓS E TODOS NÓS DEVEMOS MUDAR, E ESSE PROCESSO COMEÇA DENTRO DE NÓS MESMOS.
UM DOCUMENTÁRIO SOBRE A MEDITAÇÃO VIPASSANA EM UM PRESÍDIO DA ÍNDIA E SEU PODER DE TRANSFORMAÇÃO. O FILME RELATA UMA EXPERIÊNCIA OCORRIDA NO PRESÍDIO DE TIHAR, NOVA DÉLI, 1993 E EM DIVERSAS PRISÕES DA INDIA, COM APLICAÇÃO DA TÉCNICA DE MEDITAÇÃO VIPASSANA, COM O INTUITO DE ABRANDAR O SOFRIMENTO DOS PRESOS, QUE OBTIVERAM RESULTADOS SIGNIFICATIVOS PARA SUAS VIDAS E PARA O CONVÍVIO COM A REALIDADE DA PRISÃO, TORNANDO-OS PESSOAS MAIS POSITIVAS PARA O RETORNO À SOCIEDADE. O FILME DEMONSTRA COMO A PRÁTICA DA MEDITAÇÃO SILENCIOSA E DA AUTO-OBSERVAÇÃO PODE AUXILIAR A UMA MELHOR COMPREENSÃO DE SI-MESMO E DA REALIDADE AO SEU REDOR, MELHORANDO A QUALIDADE DE NOSSAS VIDAS E DE TODOS QUE CONVIVEM CONOSCO.
A técnica acabou por levar ao quase aniquilamento da reincidência, corrupção e uso de drogas nos presídios onde está funcionando. Em razão do sucesso imediato, foi estendida aos funcionários do estabelecimento e proporcionou a proliferação de cursos periódicos em uma área especialmente criada para reflexão. A transformação modelar da prisão Tihar, nos últimos 13 anos da experiência, acabou fazendo-a referência para outros presídios indianos.
CLIQUE AQUI, E CONFIRA O DOCUMENTÁRIO ”TEMPO DE ESPERA, TEMPO DE VIPASSANA”.
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