Buda Virtual · 229.420 curtiram isso
há 5 horas · A ideia de que todos nascemos sadios talvez seja surpreendente. Mas a tradição budista vai ainda além, afirmando que todos nós, na verdade, estamos sãos neste exato momento. Quaisquer que sejam as confusões que possamos experimentar ou as duvidas e ansiedades que possam advir, nossa sanidade fundamental – subjacente a tudo isso, em meio a tudo isso – esta sempre presente. Poderíamos dizer que este livro procura demonstrar como uma afirmação tão ousada pode ser verdadeira. Mas, na verdade, o que este livro apresenta é um meio para que você, leitor, determine a verdade dessa afirmação por conta própria.
Esse meio é a meditação. Como diz Trungpa Rinpoche, meditar é ‘’um meio de elucidar a natureza real da mente e da experiencia’’ (adiante, na pagina 35). Na medida em que a psicologia é o estudo da mente, a meditação nos oferece uma pratica psicológica singularmente intima. Não é a experiência de outra pessoa que estudamos, mas nossa própria experiência. Mas, apesar disso, a meditação, como veremos, nos leva a uma intimidade com os outros seres igual a que temos com nós mesmos.
A meu ver, muitos de nós somos trazidos para a psicologia por pressentir que alguma coisa, de algum modo, deve estar errada. Nossa curiosidade sobre a mente humana não é imotivada. Embora possamos ter repulsa a ideia de pecado original, a experiência de nossos estados mentais ainda não a excluiu de uma maneira definitiva. Mas a pratica da meditação, com sua investigação destemida e aceitação incondicional de todas as formas de consciência, nos leva inevitavelmente a um conhecimento mais profundo. Temos uma experiência real da pureza fundamental da mente – de nossa mente. Não é uma questão de fé ou doutrina nem algo que possamos produzir, se tentarmos. Mas também não podemos ignora-la quando surgem em nossa exeriencia. E aos poucos podemos desenvolver confiança em sua presença constante, do mesmo modo como sabemos que nossos pulmões encontrarão ar para respirar. Isso não exige de nós nenhuma reflexão.
Nesse ponto, não podemos mais afirmar que nós, ou quaisquer outras pessoas, temos um núcleo lesado. Na verdade, ‘’o mundo em que vivemos é fabuloso. É plenamente viável. (...) Deveríamos perceber que não há paixão, agressão, ou ignorância no que vemos (...) Tudo o que fazemos é sagrado’’.
Essa fabulosa sacralidade indica que a psicologia budista não tem um conceito de cura ou terapia. Nos contos de fadas, o sapo se transforma em principie quando beijado. Mas, no budismo, o sapo é coroado como sapo. A folha lótus em que ele se senta é um trono. ‘’Percebe-se que se pode sentar como um rei ou rainha num trono. O caráter régio da situação revela a dignidade que provém de ser sereno e simples’’. ‘’Você começa a perceber, sem egocentrismo, que é o rei do universo. Como atingiu a compreensão do que é impessoalidade, pode se tornar uma pessoa.. Esse estágio é chamado de iluminação’’.
Nesse ponto, nossa concepção da existência se inverte. Deixamos de partir da experiência e de perscrutar seus desnorteantes desdobramentos em busca de profundidade, de clareza ou de Buda. Passamos, em vez disso, a repousar na bondade fundamental, e nossas experiências passam a se manifestar continuamente a partir dela. Não há necessidade de liberta-la a força de dedos ávidos ou de um coração cúpido. Podemos partir de um amor aberto, que sabe o momento de reter e de soltar. Como isso é intimamente impessoal, podemos nos tornar – e deixar de ser – pessoas.
Por isso, quando indagado sobre a diferença entre meditação e psicoterapia, Trungpa Rinpoche respondeu ‘’A diferença esta na atitude da pessoa ao submeter-se as disciplinas da meditação e da psicoterapia. No estilo popular de terapia, a atitude da pessoa é de quem esta tentando se recuperar de alguma coisa. Ela busca uma técnica que ajude a se livrar de seu problema ou supera-lo. A atitude meditativa é aceitar, em certo sentido, que você é o que é. ‘’Desse ponto de vista, pode-se dizer que a meditação não é terapia. Quando há alguma ideia de terapia envolvida na jornada espiritual ou numa disciplina espiritual de qualquer espécie, ela se torna condicionada. A pratica da meditação é a experiência da totalidade. É impossível compara-la com qualquer coisa, mas ela é completamente universal.
Quem sou eu? O que sou eu? Por que sou eu? Os seres humanos se fazem essas perguntas há vários milhares de anos. Ao longo do tempo, nossa espécie elaborou várias respostas, mas cada pessoa ainda tem de lutar individualmente com essas preocupações. As respostas pré formuladas parecem nos deixar insatisfeitos, tamanha é a centralidade dessas perguntas na condição humana. Em vez de nos oferecer artigos de fé, a pratica da meditação da tradição budista nos permite investigar essas questões em primeira mão, como experiência.
A meditação é uma técnica antiga, mas surpreendentemente aplicável e apropriada para lidarmos com nossa situação contemporânea. Ela encontra ressonância em várias descobertas dos psicólogos ocidentais no últimos século. A meditação budista nos incentiva a começar com nossa experiência de nossa própria mente e a usar a experiência adquirida na meditação para investigar o que somos ou parecemos ser. Os ensinamentos budistas sugerem que precisamos examinar mais atentamente nossos padrões habituais de pensamento e o modo como condicionam nossa experiência. Investigar quem somos pela pratica da meditação pode nos ajudar a nos libertar da bagagem mental desnecessária e a seguir com nossa vida de uma maneira real. Não é que nos libertaremos necessariamente de todos os nossos problemas, mas, se começarmos a observar como frequentemente sentimos um mal estar, sofremos ou ficamos instatisfeitos e ansiosos, começaremos a ver também como superar ou dissolver essas situações difíceis.
Existem diversos métodos de meditação, mesmo dentro da tradição budista. Existem variações significativas de técnicas e modos de aplica-las, o que afeta a experiência pessoal da meditação e as conclusões a que se pode chegar sobre a natureza da mente e da realidade. Pode-se dizer que essas diferenças são parecidas com a observação do mundo por lentes diversas. Podemos vê-lo a olho nu; podemos usar óculos para corrigir a miopia ou a hipermetropia, podemos olha-lo com um microscópio, podemos usar um telescópio para observar o espaço exterior. Cada um desses métodos nos dará uma visão diferente. Algumas dessas visões favorecem uma interpretação costumeira da realidade; outras nos mostram um aspecto do mundo radicalmente diferente do que poderíamos esperar. Galileu foi estigmatizado como herético por descrever o que viu ao apontar seu telescópio para o firmamento. A meditação pode nos proporcionar uma visão igualmente revolucionária.
Veja abaixo a brilhante palestra de Robina Courtin :
http://youtu.be/TkIy1Llz4Zk
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